quinta-feira, 30 de julho de 2009

Revés conveniente

Minhas mãos nuas nada portam além da humildade
Não carrego armas, mas modestos versos
Como os vê nobres? Eles se banham na vulgaridade
Se cobrem de miserável simplicidade
E para enganar minha dor
Camuflam-se em serena histeria
Para fingir o amor
Afagam-me com agradáveis bizarrias
Ai, lamentam em meus ouvidos uma perda
Uma perda, em minha mente, inexistente
Mas que fez de meu coração
Esse órgão veemente, delinqüente
E é tudo incoerente
A dor se esconde em meu intestino revirado
Dilacerado por promessas fantásticas
Ai, de tão pura fantasia
Meu saber já rasgado
Acreditou noutra compania
E eu aqui, arregaçado
Choro por tão cruel idolatria
Choro pela peça de minha mente
Que marota, recitou uma paixão
Que só tocou um coração
Mas que por florescente troca
Abriu esses meu olhos
Pra mais nova ilusão

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Curto lembrete

Essa vida de rimas
Me fez acreditar
Que agora dançando
Aprenderei a amar

Para Carolina

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Estava implícito

Ora, minha poesia é a dança da mentira
Do exagero, do falso desespero
Não passa da afeição
Por lograr o coração

Portanto não se preocupe,
Pois minha mente é calúnia
Meus versos oblíquos
São forjadas petúnias

Meu corpo se inunda em paixão
Minha pele exala amor
Não creio na razão
Mas de tanto temer a solidão
Minhas mãos teimam na ilusão
De entulhar-me com falsa dor

Nunca cedi ao hábito condicional
Nunca pensei antes de atuar
Nunca neguei um apaixonado olhar
Nunca restringi-me ao pecado carnal
Vivi ousando, recitando a ventura
De ser livre, animal

Portanto não se inquiete,
Por trás das rimas de amargura
Há uma criança já entregue
À nostalgia delirante do amor irracional,
Incondicional, encravado em minhas entranhas
Correndo em meu sangue morno
E subindo-me à cabeça, levando-me à loucura delinqüente
De viver da paixão, e dela somente

domingo, 12 de julho de 2009

Tango de Lola

Deito-me num leito de palavras
Umas certas demais
Outras, excessivamente malogradas
Banho-me em lágrimas solitárias
Ainda que unidas no embrião
Rolam em minha pele, solidárias
Afogando minha solidão
Observo-me num reflexo sorridente
Mas minha mente não se mira na mentira
Sabe de meu contentamento descontente
Em ver na distorção uma alegria safira
Recordo-me de noites lancinantes
Dos pecados e pecadores
Das promessas murmurantes
Dos olhares embriagadores
Dos tocares palpitantes
Dos suspiros provocadores
Dos gemidos ofegantes
Dos momentos gozadores
Dos minutos restantes
Do sorrir dos consumidores
Os triunfantes, os simpatizantes
Os administradores, os pintores
Os tolerantes, os repugnantes
Os sofredores, os saqueadores
Os traficantes, os humilhantes
Os agressores, os pagadores
Nenhum apagou minhas dores
Ou pagou meu orgulho vacilante
Hoje perguntaram-me sobre o amor
Mas de tantos amantes
Restou em meu corpo somente o temor
De outras noites luxuriantes

Toscos anseios

Atuo o ato do torto temível
Da descrença do destemido
Do amor amargo e amolecido
Vivo vendo o viver vencido
Pelo pressuposto da paixão
Que quebrou cada quimera
De cada cansado coração
E essa exorbitante emoção
Preenche meu peito
De inviável ilusão

Delírios dispersos

E por nunca me entregar
Fui condenada a ser minha
E ainda que o espelho me sorria
Amor não há
Sem qualquer idolatria

Minha ilusão já me tomou a certeza
Mas que alegria! Jamais quis a pureza
Da absolutamente estável razão
Quero mais a insensatez, a aventura
A imprudência, a loucura!

Dizem por aí
Que amar é se entregar
Cantam por lá
Que amar é se enjaular
Digo por aqui
Se submeter a um é aceitar a decrepidez do coração
É se sujeitar
A viver sem a esperança e a ilusão
É renegar
O amor de todos, animal
Do natural se esquecer
É, por fim, trucidar
A verdadeira essência do ser


E pela relutância de minha mente em se entregar
Decido logo que mesmo atentando,
Enraizando meu coração na razão
Deixarei para depois o tango
De esmera e pura paixão

Para agora, digo logo
Não darei a mão ao vento
Ao incomutável presente
Frente a solidão, alento
Pois da libertinagem se exclui o amor impertinente

terça-feira, 7 de julho de 2009

À jactância de todos os homens

Se de minhas calúnias
Fogem teus sorrisos,
Se de minha fúria,
Surgem teus motivos

Cale-me logo, antes que me emudeça
Já que fora tão sincera minha pureza
Diga-me qual minha certeza
Já que é tão clara minha transparência

Se outros olhos despem minha alma
Quem há de ver a calma
De meus falsos suspiros,
Agora que com o tempo iro?

Se de minha dor vazasse a verdade
Se meu corpo aclamasse meus atos
Se da vida restasse a sinceridade
Se não existissem amores caricatos

Saiba que sobreviveriam os incertos delírios
As incertas rimas rogariam com solidão
E por meticulosa vaidade
Incitariam espontâneos suspiros
De deleitosa e terna ilusão

Mas se em meus sonhos não se manifestasse
A molesta, ainda que inevitável dor
Veja, minha mente jamais provaria do amor!
Pois sem o pesar não vejo a ventura
Sem o gelo não fervo com calor
Meu corpo não amolece sem a amargura
De outra inviável boca de ardor

Descubra-me.

Minha foto
Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões