segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As ervas dos olhos

Agora que minha mente se encontra dentre as entranhas do mundo
Enquanto meus olhos rezam com o corpo
Agora que meu delírio queda mudo
Enquanto meu coração declara-se morto

Enquanto a vida passa-me em segredo
Agora que o espaço devora meus tímpanos
Meus pés afligem com medo
E nesse solo convertem-se, oblíquos

Ah, luz do amanhã ecoando em meus suspiros,
Ilusão coando minha esperança
Os ecos do passado contorcendo-se em risos
E o sangue se queimando com esperança

Ah, as veias jorrando em flamas
Os objetos sussurando-me mantras
Meus desejos em outras camas
Minhas intenções fingindo-se santas

Que venham da terra as brisas
Preencherem meu fôlego com cantos
Que venham as ciganas, as saídas!
Exorcizando meus medos humanos

Que venham os índios testarem-me com liberdade!
Suas cordas alucinarem meus membros
A raça animal da verdade
A verdade incondicional dos desatentos

Que venham os segredos obscuros
A loucura dos amantes,
As proezas e os infortúnios
Derramando em minha pele o calor dos errantes!

Mergulhe em mim, juventude!
Mostre-me os passos dos regojizos
Leve de mim o anseio das virtudes
Leve de mim a razão, os juízos!

Sou sua, meus cabelos, meus nomes, minha verdade
Entrego-lhe a culpa, o medo e a razão
Quero navegar atada à irresponsabilidade
Quero afundar afogada de paixão!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ato 1 - L'arrivé

Dançando breve em minhas veias,
Furtando meus versos,
Meus sorrisos
Já dispersos

Rasgando-me e costurando-me,
Com linhas de um sonho
Aquecendo-me e torturando-me,
E partindo risonho

Tirando-me os versos e as certezas e as emoções
E cortando-me em talhos
E se embebedando de meus perdões
E atirando-me ao espelho,
Fazendo-me encarar os retalhos
Do que foi tomado inteiro
Do que nunca foi amado

Sou meu passado queimado,
Meu futuro exagerado,
Inexistente,
Inconsciente

Sou meus desejos confusos,
Minhas palavras forçadas,
Meu corpo quente,
Suas mãos cansadas

Sou nada
Sou o espelho
Sou o que você não quis
Sou o que dou
Apesar de não dar nada
Além de um ato de atriz

domingo, 17 de janeiro de 2010

Perdão pelo atraso do amor

As calças largadas, as meias furadas, a dor apartada,
Os olhos nela
Moça singela,
Os olhos caídos, os braços subnutridos, os dentes ressentidos

A vista de terra, as pegadas da guerra, a vida sem terra
Os olhos nela,
Suor e sequela
O sol de sertão, as palavras na mão, a esperança na solidão

Ele a viu
E de súbito seu corpo parara
A boca da fome selara
As mãos lânguidas dançaram
A boca rachada estreara um sorriso
O menino de ossos chorava gotas secas de regojizo

Ele a seguiu
Os passos fracos na contramão
As palavras na mente em distorção
O peito ardendo com o toque da mão
Os lábios balbuciando com a falta da razão
Os grunhidos indecifráveis de paixão
E o golpe seco da desilusão

Ele fugiu
Os passos se quebrando
Os ossos falhando
A fome estourando
Os pêlos derretendo
O estômago se comendo
A alma adormecendo
As pálpebras caindo
Os ouvidos com um zumbido
Uns gritos expandindo
Uns dedos lhe furando
E a mão o acalentando
As unhas o cortando
E um beijo sem jeito
No rosto satisfeito
O amor mal-feito
Levando o corpo caído
Tombado, desligado
O corpo traído,
Morto de amado

Descubra-me.

Minha foto
Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões