quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dá-me um prato cheio recheado de lixo e lhe digo que tenho fome mas não de vício

Tenho fome.
Talvez, talvez devesse comer outro intragável mundo
Mas já me cansei de ganhar o peso de todos os homens
Já cansei de sentir em minha carne seus fungos
Tenho fome, tenho tanta fome
Mas em meu ventre sinto tantos corpos...
Sinto-me grávida de tudo
Quero parir todos esses ossos
De incontáveis anseios e vícios fecundos
E ainda, tenho fome
Talvez, talvez se eu enfiasse meus dedos em minha garganta seca
Golfasse esses devaneios infestados de vermes
Talvez assim minha mortal enxaqueca
Pudesse escorrer de meus lábios débeis
Tenho fome, tenho fome!
Em minhas veias corre a tristeza ébria
E a tusso e a cuspo junto de meu fôlego vencido
Meu estômago lota-se de princípios velhos
De filosofias vãs e intelecto fingido
Tenho fome...
De morte já me saciei e a vida que traguei
Não satisfez nem corpo ou (pobre) alma
Do amor provei mas minha fome é de rei
E corpos são a mão do diabo que afaga
E ele não corrompe minha fome
Que não é de hoje ou de anteontem
É a anorexia eterna dos sentidos
É o vazio físico das convenções que me consomem
E me comem, e comem meus ídolos
E comem minha vida até suicidarem-me de fome. Fome.
É a fome que tenho
Por nada ter

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Olho de Shiva

Perdoei meu amado por roubar-me o amor
De tantas lágrimas versadas e poucos versos cantados
Perdoei o tempo por sacrificar minha dor
De tantas sinceras e castas carícias,
Efêmeras e esquecíveis malícias
Culpei a liberdade por seu irresistível esplendor

Quantas forjadas renúncias me forço a fingir
Para que se cultive eternamente em seus francos olhos
Tão rara e cândida complacência,
Insuportável e constante carência... 

Como agora ousar destruir,
Com minhas garras rasgadas e roídas,
Sua suave e santa inocência?

Seu corpo é a perfeição,
A fantástica e impossível união
Entre a castidade divina da infância
E a culpa prevista no perdão

Mas da efemeridade surgiu o pecado
E em minha cachaça não cabe seu amor
Minha vida tornou-se o mais doce espetáculo
E minha brasa não é mais fruto de seu ardor

Com a dança dos vícios suei meus medos
Meu corpo é fumaça, minha mente é solidão
Tornei-me anjo de asas atadas em terra de desejos
Mas te perdôo por matar nossa paixão

terça-feira, 12 de abril de 2011

Oração ao esquecimento

Ave Solidão, tristeza imaculada
O desespero é convosco
Maldita sois vossa presença entre as noites
e bendito é o fruto de vosso ventre, as lágrimas
Santa Solidão, Mãe da beleza
Enxugai o pecado de meu corpo,
Agora e na hora de minha redenção,
Torturai cada veia de minha carne,
Secai o sangue de meu coração
Agora e na hora de minha sorte
Maldita seja sua voz nesta noite
Agora que o véu de estrelas esconde o luar
Exorcizai os erros em mim
Ave Solidão, cinza do passado
Apagai de mim o tempo,
Cicatriz lasciva da paixão
Apagai as linhas de aflição,
Talhadas em meu corpo e respeito


Limpai as lágrimas perversas
Que salgam meu corpo com pecado
E fazem de meu sorriso
Cicatriz do amor dilacerado, amém

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tribunal dos perdões

Certa noite, caminhando por entre os sonhos
Encontrei, com o destino em minhas mãos,
Maria das flores por entre urubus risonhos
E homens filhos do pecado de Adão

Maria, jogada no orvalho de erros passados
Úmidos de arrependimento
Regados pelo mar de seus olhos inchados
Decididos a viver em improvisado convento

Sobressaltou-se com os balbúcios de meus lábios
Que indagavam a razão para tão lastimável culpa
Pois ainda que estivesse eu em tão bisonha ilusão
Tamanho desalento não seria possível nunca

Então, como se de seu olhar escorresse a baba do diabo
De seus pulsos jorrasse labaredas do inferno
E do sangue de seu coração surgisse o pecado
Maria rogou pelo perdão eterno

Confessou, com lânguidas palavras rasgadas
Que em posição de Eva e engano de Madalena
Cedera a quimeras passadas
Embriagada de ilusão e loucura serena

E entregou-se às tentações de lascivas lembranças
Enterrou-se em cova de erros e submissão
Aceitou, quando nua, louca e falsa esperança
Agonizou ao toque de bocas cruas de paixão

E então lágrimas brotaram, hemorrágicas e vazias
E sua boca urrou com desbotada virgindade
Implorando para que bebesse eu suas agonias
Para que lhe devolvesse a insônia e a castidade

Queria que os pesadelos não mais lhe corroessem a sanidade
Pois quando cria ter se livrado enfim do desespero
Percebera que ela, em melancólica realidade
Era, quem diria, meu rosto mirando o espelho

domingo, 10 de abril de 2011

Maria, Mulher da Vida

Pelo triste aborto da felicidade
Caíram em mim as lágrimas de uma moça
Que por amar a liberdade
Foi-se embora, largando a louça
Seu marido, destemido
Chegou em casa assanhado
Deitou-se descontraído
Urrando por um cuidado
Quedou um tempo, esperando
Até esgotar-lhe a paciência
Pulou da cama, berrando
O corpo à mostra, sem decência
Correu desesperado, viu a louça sem lavar
Impetuoso, agarrou o facão
E Maria foi procurar
Esquecido da razão
Não a encontrava
A procurava
Sem paixão
Não a via
Até que então
Num canto sem alegria
Estava Maria destruída
Distraída na solidão
O homem, irado
Pegou sua mão
Arrastou-a pelo asfalto
No facão ao alto
Refletia o sol do verão
Maria, num suspiro fraco
Suplicou perdão
Ele, com asco
Cuspiu em sua face
E furou-lhe o coração
Sem ninguém em seu encalce
Foi-se embora pacato
E ao chegar em casa
Lavou todos os pratos.

Marguerite aux camélias

 Marguerite, prise d´un accés de toux, tombe en rentrant dans sa chambre. Assise, elle regarde le miroir.
- Ah! Quels malheurs me sont reservés! Qui aurait di que la pâleur m´aurait fait pleurer...
 Armand, après quelques secondes d´hésitation, rentre.
-Madame ! Pourquoi êtes-vous par terre?
-Monsieur Armand! Ne vous inquietez pas, je suis juste tombée...pourriez-vous m´aider?
(Un temps) Qu´est-ce que vous avez dans les mains?
-Eh, bien...je vous ai apporté des fleurs.
-Merci, c´est bien gentil...mais je n´aime pas les camélias, Armand.
-Pardonnez-moi....
-C´est rien, ne vous inquietez pas de ça. Mais alors, quel est la raison de cette agréable visite?
-Je voulais juste savoir si vous allez mieux.
-Bon, je ne vais pas mieux, mais je ne vai pas plus mal non plus. D´ailleurs, je commence à m´habituer.
-A vous habituer? Mon Dieu, madame, comment pourriez-vous vous habituer à l´idée de mourir? Vous vous faites du mal! Marguerite, laissez-moi vous racompagner chez vous, vous aurez au  moins un moment de paix. Laissez-moi vous soigner!
-Mon cher, ne voyez vous que je suis en paix? C´est grâce au péché, au plaisir et à la vanité que je suis encore dans le monde des vivants. Je suis déjà condamnée, quand je regarde dans le miroir, je vois la mort en sourriant. Comment pourriez-vous changer mon destin? Changer ce qui est déjà fait?
-Par l´amour que je vous porte!
-L´amour?! Armand, cela n´existe même pas dans ma vie.
-Vous vous trompez, Marguerite, car il est plus proche que ce que vous imaginez...
-Si vous parlez de tous les hommes qui on dit "je t´aime" dans mon lit, aucun n´était sincère!
-Non, madame, je parle de moi! Je parle de l´amour incontrôlable que je ressent pour vous! De toutes les nuits de veille où j´ai pensé à vous, de tous le jours où je suivais votre existence. Voilá maintenant deux ans, deux ans que j´ai cette passion encarcerée dans mon coeur. Depuis que je vous ai vue pour la prémièr fois, tout ma pensée fut remplie de vous, de vos yeux, de votre beauté, de votre parfum, de vos cheveaux, de votre sourrire...
-Vous m´aimez...Pardonnez-moi d´avoir oublié ce que signifie ce mot mais...mes sentiments se limitent au plaisir...je ne comprend pas comment pouvez-vous m´aimer, Armand, je suis même sûr que vous ne saviez pas ce que cela veut dire....De toute façon, à quoi ça sert l´amour quand la mort est si proche? Non, ne me répondez pas, Armand, car je sais déjà la réponse que vou me donnerez...non! L´amour ne pourra pas me soutenir, car je ne sais pas aimer.
-Je peut donc vous l´enseigner!
-Vous n´avez pas compris, mon cher, je ne veut pas aimer.
-Même se je vous promis de vous être dévoué, de corps et âme?
-Ah, et porquoi voulez vous ça maintenat, dans mes derniers jours? Pourquoi n´avez-vous jamais promis ce dévouement avant, quand j´avais encore l´espoir de vivre? Vous n´êtes jamais monté ici durant ces deux ans...pourquoi?
-Je ne vous conaissais pas...
-Et croyez vous que vous me connaissez maintenat? Alors que je suis si prête a partir? Alors que vous m´avez parlé pendant ce temps la? Ces dix minutes?
-Je crois que je peut comencer à vous connaître, mais avant je n´avais pas assez de courage.
-Hélàs, vou n´aviez pas le courage de monter dans la chambre d´une courtisane? A présent qu´elle est devenue malade, vous avez trouvé ce courage?
-Non! Ce n´est pas cela...
-Alors, qu´est que c´est? Pensez-vous qu´une prostituée malade est plus sentimentale?
-Marguerite! Je n´ai jamais dit cela!
-Mais, peut-être, l´avez-vous pensé?
-Arrêtez cette torture, je vous aime, comment pourrais-je penser cela de vous?
-Ainsi vous êtes vraiment amoureux de moi!?
-Je ne sais pas si je dois vous le dire aujourd´hui que...
-Ah, Armand...il serait mieux, pour votre coeur, de ne le dire jamais.

12/03/2007

Descubra-me.

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões