domingo, 23 de agosto de 2009

Tripalho

Amanhã verei o samba chegar
O amor balançar
E a platéia sorrir

Ontem vi a dor se afogar
O patrão se matar
E a miséria sumir

Mas hoje acordei dum sonho, ofegante
Recitei a verdade narcotizante
Para alguém comigo acordar

Mas se agora os cegos andantes
Marcham o hino, ignorantes
Como eles hão de se indignar?

Se esses animais transcedentes
Fadados à cegueira imanente
Morrerão sem ver,
Quem há de humanizá-los?

Esses macacos domados,
Quem há de salvá-los
Do sistema inexorável?
Da rotina intragável?

Pois sendo pródigos em esquecer
Ao enxergarem sem ver
Cederão à cômoda cegueira,
Permanecendo na estupidez mundana,
Na insensatez derradeira,
Na eternidade profana

Pois prezando assim a solidão
Dando à divindade toda a razão
Vivendo assim na superficialidade
Banalizando a real idade

Morrerão todos sem ver
Vendo o que os olhos rotinizaram
Acreditando no que os olhos ofuscaram
Viverão numa eterna leprosaria
E os olhos lhes negando a verdadeira alegria

Os olhos! Os órgãos!
Negarão todo o saber
Nos afogarão em hediondo sofrer
Pois não é sempre que ao fixarmos o espelho
Podemos nos ver

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões