terça-feira, 29 de setembro de 2009

La parole à la Paresse

De quem é a culpa por meu pranto?

Culpa minha, que corto o encanto

E calo teus impulsos de ardor

De quem é a voz que me desvenda?

É a do mundo, de rouquidão horrenda

Que rotula teu impudor

E este som que me desvaira a carne?

É a vida que lhe passa cheia de charme

E promessas de amor

E esse cheiro de solidão que exalo?

É o perfume da rosa que apunhalo

Para encher-te de calor

Mas que desgraça ter a graça roubada por teu desgosto!

Não é a graça que lhe é tomada, mas bem o oposto

Pois de vadiagem morre a Dor.

Então a libertinagem salvou-me da desgraça?

Minha cara,

Tua alma devassa calou com cachaça todo e qualquer rancor

Mas fadou-te a beber do amor

E engasgar-te na fumaça

De tua própria trapaça,

Morrendo no pico do esplendor

Mas sem nunca degustar da calmaria,

Do mar em terra fria;

Viverá apenas de morte contínua

Renascendo a cada dia para a quebra da rotina

Minha querida,

A libertinagem fadou-te a morrer de alegria!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quando mentem os poetas

Já se foi o tempo de ternura e tentação
De beleza e inspiração

O tempo de sofrer por assassino amor
De chorar por querer a dor

Tempo em que a razão não me impedia
De amar quem me agredia

Tempo em que o pecado era desejado com atraso
E o afeto então abortado

Deste tempo nada restou além da cicatriz
Deste sonho digno de casta meretriz

Deste tempo vejo a candidez se esvaindo
Meus versos morrendo e meu coração fingindo

E agora o que escorre de meus lábios é a podridão
Meu hálito mefítico de pecado e desilusão

Agora o tempo pára para apagar minha dor
Reduzi-la a uma lembrança sem valor

O tempo pára para me dizer
Que amar não é apenas sofrer
Tampouco esquecer
Ou aceitar
Renegar,
Mas gritar
E lutar
Por seu querer

Então veja só!
Todos estes anos de falso amor
Minha saliva restringiu-se ao impudor
Meus lábios cerrados
Meus atos acalentados
Por aqueles por quem sonhei
Aqueles que nunca de fato amei

domingo, 27 de setembro de 2009

As 130 primaveras

Se as flores, as rosas
Não fossem assim tão venenosas
Quem sabe não teria minha mente uma chance
De aceitar enfim qualquer romance

Se não levassem tantas primaveras
Para ter meu corpo junto ao seu
Quem sabe minhas lembranças não quedariam velhas
E eu ainda seria aquele "eu"

Se meus sonhos forem a esperança
De relevar então um mar
Quem sabe eu volte enfim à dança
E possa por último sanar

Quem sabe com teu corpo
Me volte a real poesia
Pois saiba que mesmo morto
É o amor minha única alegria

...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A verdade é que minto

Por noites tentei admitir
A alma que me vem no carnaval
Tentei sem êxito fingir
Que essa dor não passa duma ânsia carnal

Por dias quedei a ouvir
Que tenho predestinado um futuro individual
Que a leviandade de meu agir
Me condenará à solidão liberal

Mas digo logo e digo breve
Quanto maior for meu ímpeto libertino
Mais estarei entregue
Ao amor genuíno

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Que maravilha!

Quando provo de teu sabor, ai amor,
Sinto flores brotando em meu peito
Seus espinhos encravando em meu futuro
E meu sonho se tornando meu maior defeito
Por guiar-me nua no escuro

Quando me apego a teu calor, ai amor,
Sinto palhaços alegrando meu corpo
Sinto minha carne solta, entregue a todas as outras
E meus seios rindo de meu rumo torto
Vestidos por tuas leis frouxas

Mas quando deixo seu corpo, ai amor,

Sinto a percussão de tambores passados
Já então esquecidos por minha alma rendida
Ao domínio de homens domesticados,
Anjos de verdades acudidas

Ausente de amor, ai amor,

Vejo a pornografia de meus olhares
Cedidos à carência humana
Vejo a vida em todos os lugares
Embaçada por minha visão mundana

Carente de amor, ai amor,

Vejo a indesejável realidade
Só vejo a desgraça, só a desilusão
E mesmo louvada por minha libertina idade
Sua falta desatou o nó da solidão

Sem teu amor, ai amor,

Me escondo nesse canto,
E retorno à minha ingênua infância
Iludida, me encanto
Com qualquer cândida esperança
Indiferente a dor,
Sou só uma criança,
Sou só uma criança,
Ai, que bom ser criança
E não sofrer por amor

Não sei se é azar
Ou benção
Mas não sofro por amar
Só por ilusão

A incompreensibilidade da mente (ou sua evidente estupidez)

1 É engraçado quando a vida me canta: Aproveite a alforria e viva da boêmia euforia
2 Engraçado porque já perdi minha cabeça,
3 A esqueci na estação de trem
4 Quando vi meu amor passar sem alegria
Decidi viver da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões.
4 Quando vi meu amor passar com indiferença
3 Lembrei-me dum passado que me convém-
2 Entediante, porque já encontrei minha pressa,
1 É entediante quando o rádio me canta: Obedeça a tirania e morra de maquinária covardia

sábado, 19 de setembro de 2009

A feiura está no amor

Posso o mundo benzer
Posso fazer chover
Posso a miséria combater
Posso o futuro predizer

Posso fazer-me bela
Posso deixar-lhe sequela
Posso tornar-me singela
Posso virar a donzela

Posso pertencer ao mundo
Posso tornar-me bixo imundo
Posso ser vagabundo
Posso ser rato iracundo

Posso até voar
Posso fingir dançar
Posso domar o mar
Posso a morte evitar

Posso andar nua
Posso ser da rua
Posso roubar a lua
Posso virar perua

Posso tudo que posso só para ser sua

Um poema ruim às vezes faz bem

Não é preciso ser ator
Para fingir a vida

Não é preciso ler Goethe
Para morrer de amor

Não é preciso tudo negar
Para acreditar na paz

Não é preciso ódio
Para aliviar a dor

Não é preciso Marx
Para negar o sistema

Não é preciso a anarquia
Para almejar a liberdade

Não é preciso ser covarde
Para fugir do tempo

Não é preciso chicote
Para fustigar a mente

Só é preciso nessa vida errante
Sacrificar o próprio corpo
Em prol da liberdade narcotizante

Ou seja,

Dane-se tudo, seja você seu mundo:
Ame sem poder, sem saber e sem querer
Faça o que quiser
A polícia é pouco para a alma
As regras são nulas frente ao viver
Viva, viva, viva, viva
Escreva o que quiser
Escreva pra você
Os outros são nada frente ao morrer
Leve em seu caixão um sorriso na mão
E álcool no coração
E viva, coma a vida
Vire a vida
Morra de vida!

domingo, 13 de setembro de 2009

Mulheres da vida (Inacabado)

Lisbela riu das pernas tortas de Mário
Zombou das rimas mortas de solidão
Sorriu para seus sonhos de escárnio
E decidiu ceder finalmente à paixão

Carla quis caçar o corpo de Caio
Encapetada pelo prazer visceral
Ardeu quando tocou seu lábio
E decidiu viver de satisfação carnal

Emília entregou-se a um homem sem nome
Movida por um desejo perverso
Descobriu-se amante de Ivone
E amou o sexo ao inverso

Carolina viveu para Ricardo
Espancada e dilacerada por falso ardor
Logo livrou-se do maldito fardo
Para nunca mais gozar com amor

Lolita dividiu sua solidão com Oscar
Acostumando-se com sua inigualável perfeição
Mas entre os dois ficou o mar
E ela agora vive de ordinária paixão

Leila há muito amou Giraldo
E este muitas outras amou
Até o dia em que, irada,
Leila com dois tiros se vingou

Joana suou ao sorrir do jovem Sandro
Ficou dias a delirar com sua puberdade
E ao finalmente realizar seu plano malandro
Foi presa por roubar-lhe a virgindade

Maria perdeu para o mundo seu homem
Por duendes e unicórnios foi levado
Pois garoto no mato vira lobisomem
E mulher na sobriedade é pecado


Outras virão.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Para os fantasmas andantes

Meus pêsames para os que temem a subversão,
vulgo lucidez
vulgo liberdade
Para os que temem o amor,
vulgo insensatez
vulgo insanidade
Para os que temem a paz,
vulgo candidez
vulgo igualdade
Para os que temem a simplicidade,
Para os que temem a ida,
A volta;
Para os que temem a derrota,
Para os que temem a revolta,
A paixão;
Para os que temem o exagero,
Para os que temem o excesso,
A ilusão;
Para os que temem a ação proibida,
Para os que temem a transgressão indevida,

Para os que temem, enfim, a vida;
Meus pêsames.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Meu fim por esses belos pecados

Isso que controla minhas mãos
Tornando-me animal de escárnio,
Esse bicho inglório
Carente de razão

Isso que me define capaz
Num momento de ingrata euforia
Tornar-me capataz
De minha própria alegria

Isso que esclarece meu viver
Que faz de mim meu títere
Empurrando-me no passo do querer
Fazendo do mundo minha síntese

Isso que planta em meu peito a ventura
De saltar nas incertezas
De rir com pura ternura
Mas fazendo de mim, hélas, ingrata burguesa

Isso (que canta em mim), a libertinagem
Faz de tantos erros minha glória
Lota meu corpo e coração de vadiagem
E faz do amor a verdade simbólica

Verdade que infiltrará em meu sangue
Penetrará por todos orifícios
Até que minha carne se zangue
E rebente por suplício

A paixão voará então pelos ares
Afastando de cada homem os males
Deixando-me no mundo como mártir,

Meu corpo explodido de amor
O sangue jorrando amor
Meus olhos, mortos de amor
Minha vida, morta por amor

Ai, quem me dera tão honrosa dor!

sábado, 5 de setembro de 2009

D'accord

En fait, c'est mieux comme ça
Mes larmes ne seront pas de sang
En fait, c'est bien que tu ne m'aime pas
Ma colère ne durera pas longtemps

Laisse moi partir, ne t'en fait pas
Ma désilusion va prend soin de moi
Laisse moi sourrir, je ne t'aime plus
Même si je t'aime pour toujours




Mais c'est bien, j'y vais
Si tu ne m'aimerais jamais.

Descubra-me.

Minha foto
Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões