quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobre suas costas

Que a ausência me despertou
Que o inviável me emudeceu
Que o úmido de meus cílios
Que não notastes meus suplícios
Que em prantos não me vistes
Que minha alma que despistes
Largou-se no tempo que vinha
Ficou no tempo de tua falsa companhia

Quando rasguei minha garganta com amor
Quando sem pena desviastes o ardor
Quando sem passos dançou
Quando sem braços me empurrou
Quando sem aviso me viu
Quando sem lábios me sorriu
Quando com receio me fugi
Quando sem anseios me entregou
As chaves do quarto em que dormia
As chaves de meu corpo que se abria

Agora que de nosso amor resta a ilusão
De nossa dança sobra a canção
Agora que teus olhos de minha mão escorrem
De meus braços teus passos fogem
Agora que depois de encontrado
Desvanece meu amor dilacerado
Agora que carecem-me os verbos
Solidários aos erros certos
Agora que quedo trinta antes do futuro
Com o destino preso no passado infortúnio

Que das ilusões nasçam outros tus
Outros milhares de teus corpos nus
Para morrer-me em deleite absoluto
Em teu arisco corpo que furto
E que dure agora e eternamente
Neste passado desgraçado e descrente
Em meu ventre rasgado e em teus lábios quentes
A insustentável mentira da gente
Que em sinfonia furtou minha negligente mente
Que abandonou-me em distância impertinente
E que, muito infelizmente,
É invariavelmente permanente

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões