domingo, 17 de janeiro de 2010

Perdão pelo atraso do amor

As calças largadas, as meias furadas, a dor apartada,
Os olhos nela
Moça singela,
Os olhos caídos, os braços subnutridos, os dentes ressentidos

A vista de terra, as pegadas da guerra, a vida sem terra
Os olhos nela,
Suor e sequela
O sol de sertão, as palavras na mão, a esperança na solidão

Ele a viu
E de súbito seu corpo parara
A boca da fome selara
As mãos lânguidas dançaram
A boca rachada estreara um sorriso
O menino de ossos chorava gotas secas de regojizo

Ele a seguiu
Os passos fracos na contramão
As palavras na mente em distorção
O peito ardendo com o toque da mão
Os lábios balbuciando com a falta da razão
Os grunhidos indecifráveis de paixão
E o golpe seco da desilusão

Ele fugiu
Os passos se quebrando
Os ossos falhando
A fome estourando
Os pêlos derretendo
O estômago se comendo
A alma adormecendo
As pálpebras caindo
Os ouvidos com um zumbido
Uns gritos expandindo
Uns dedos lhe furando
E a mão o acalentando
As unhas o cortando
E um beijo sem jeito
No rosto satisfeito
O amor mal-feito
Levando o corpo caído
Tombado, desligado
O corpo traído,
Morto de amado

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões