quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobre suas costas

Que a ausência me despertou
Que o inviável me emudeceu
Que o úmido de meus cílios
Que não notastes meus suplícios
Que em prantos não me vistes
Que minha alma que despistes
Largou-se no tempo que vinha
Ficou no tempo de tua falsa companhia

Quando rasguei minha garganta com amor
Quando sem pena desviastes o ardor
Quando sem passos dançou
Quando sem braços me empurrou
Quando sem aviso me viu
Quando sem lábios me sorriu
Quando com receio me fugi
Quando sem anseios me entregou
As chaves do quarto em que dormia
As chaves de meu corpo que se abria

Agora que de nosso amor resta a ilusão
De nossa dança sobra a canção
Agora que teus olhos de minha mão escorrem
De meus braços teus passos fogem
Agora que depois de encontrado
Desvanece meu amor dilacerado
Agora que carecem-me os verbos
Solidários aos erros certos
Agora que quedo trinta antes do futuro
Com o destino preso no passado infortúnio

Que das ilusões nasçam outros tus
Outros milhares de teus corpos nus
Para morrer-me em deleite absoluto
Em teu arisco corpo que furto
E que dure agora e eternamente
Neste passado desgraçado e descrente
Em meu ventre rasgado e em teus lábios quentes
A insustentável mentira da gente
Que em sinfonia furtou minha negligente mente
Que abandonou-me em distância impertinente
E que, muito infelizmente,
É invariavelmente permanente

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Breu

Meus olhos vendados
Surdos pelos sonhos
Quando subitamente acalentados
Por teus lábios risonhos

Meus olhos úmidos
Golpeados pelas lembranças
De romances súbitos
Da dança de crianças

Meus olhos quebrados
Pela certeza da solidão
Quando sedados pela dor
Pela saudade de seu coração

Meus olhos falecidos
Fatigados de tanto roer
Roer minha alma já vencida
Pelo medo de sofrer

Meu corpo chorando em luto
Afogado na correnteza das lágrimas
Acorrentado em rancor absoluto
Rouco de gemidos e lástimas

Meu eu calado e desnudo
Caído em chão de fotos
Memórias de um coração mudo
Desejos reprimidos em olhares devotos

Suspire em meu ouvido
Com a paciência do amor
Diga-me num grunhido
Enquanto calo em ardor

Conte-me sem sentir
Agora que sua mente já padeceu
Grite-me sem pressentir
O que seu sorriso já esqueceu

Se suplícios não lhe bastarem
Se minhas juras não lhe agradarem mais
Tenha minha alma novamente nua
Pois de dúvida meu sangue jaz

Se meu corpo, outrora razão de seu viver
Agora com repugnância não queres tocar
Dou-lhe as palavras que eu não quis dizer
Face ao erro de para sempre te amar

E se ainda assim não se der por satisfeito
Rogo-lhe com o rosto encharcado de paixão
Rendo-me ao meu medo, meu defeito
E juro conceder-lhe perdão

Apenas conte-me, ao meu aberto peito
Se nas vísceras daquele tempo que passou
Teu lascivo olhar de proveito
Em algum momento me amou

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Mal-Estar na Ilusão

Não há preza que apresse a prece
Naquele culto de corpo e canto
O hino que a mente emudece
O grito que faz do homem o santo

Vem a batida de fé no peito
O rito da ilusão nos pés
Que presos e sem jeito
Querem fugir de viés

Sobe no sangue a razão
O erro rasgando a garganta
Empurrando pela boca o coração
Arrancando da alma uma santa

Maria de olhos vendados
Prendeu minha mente ao chão
Crentes de corpos fechados
Morreram ao beber a ilusão

O Diabo sentado aos risos
Descendo com o mato pelas goelas
Para os que crêem, regozijos
Para os que vêem, as sequelas

Deram-me forças, deram-me
O peito para a razão
Deram-me olhos, deram-me
O espelho da putrefação

Que seja esse delírio coletivo, então
Os passos de sua fuga
Que corra até a morte, em vão
Pois é o amor a real cura

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Oração a Santa Cruz

Esses dias descobri um canto
Meu canto, tão leve
Foi encontrado em meio ao pranto
De uma solidão breve

Em meu canto pus meus cantos
Cantos de desejos e ilusões
Nele meu descanso,
Tornou-se a razão de minhas paixões

E agora é meio estranho,
Como se o mundo não me coubesse
Quando saio nem me encanto
Com o real que me transparece

Na rua perguntam-me quem sou
Mas ora, como hei de saber?
Se sendo me descubro,
Mas não antes de morrer
Irei-me com o segredo no túmulo
E por isso irei sem ser?

Quando nua perguntam-me pra onde vou
Mas veja, que graça há em saber?
Se indo assim no descuido,
Vagueando na escuridão do sem-ver
Irei sem olhos prum futuro
Que já era certo de ser

Se lhe perguntarem pra onde ir,
Diga que já fui por aí,
Que não volto pra realidade
Sem antes sentir saudades da dor
Que não volto à sanidade
Sem antes desvirtuar o pudor

Pois não é me vendo que me enxergam
Não é minha carne minha verdade
Minha alma que postergam
Não passa duma calamidade

Afinal sou minha vontade,
Não o que de minha vontade fizeram

Sobre as cores, dores e amores

Regardez, les jeunes
La bleunesse de mon coeur
Alors que ma douleur
Est devenue jaune!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ma France

Vou-me embora
Deixando essa vida para trás
Não posso chorar agora
A alegria foi tão fugaz

Adeus às lembranças e aos amores
Adeus à criança que já não sou mais
Bebi do amor, vomitei as dores
Conheci a solidão que agora jaz

Vou-me embora, vou-me agora
O tempo já não resiste mais
Vou-me embora, já é hora
Meu amor o tempo refaz

26/06/08

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Brincadeiras de Roda

Veio o ladrão de olhares
Tirar meus pés do chão
Veio com pesares
Ensinando-me a a ilusão

Arrancou minha pele dos ossos
Máscara da imperfeição
Fez de seus olhos mortos
A cura de minha razão

Veio o sonho de infância
Dar-me a mão
Trocar olhos de petulância
E ir-se em vão

Lhe faltou o toque
Lhe prometi o amor
Lhe dei a tristeza
Para evitar a dor

Sigo cambaleante
Sem direção
Sem forças
Para a paixão
Sigo dançante
Na contramão
Com forças
Para a ilusão

Que sem sonhos na mão
Morro assim,
O corpo erguido
e a alma no chão.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A punição da culpa pelo tempo mal-vivido

A, quem me dera se esses passos falhos
Guiassem minha marcha à ilusão
Despindo meu coração em talhos
Saciando a sede de minha razão

Quem me dera livrar-me dos modos
Permitir a cegueira do desejo
O apetite que vaza de meus olhos
Encarcerado no amor que versejo

Não fosse a mente encabulada,
Tirana maldita!
Não fosse a língua acanhada,
Parva aflita!

Meus lábios sorririam com glória,
Meu peito com gratidão
Seria minha paixão liberatória
Que arrancaria o medo da desilusão

Meu corpo tornando-se a pele de quem nunca se ouviu
Nossos olhos desnudando a paixão
Meu riso salvo doutro canto vil
Minha alma rindo face à fabulação

A, quem me dera o almejo do tempo
Para mudar aquele instante condenável
Quando neguei-lhe com acanhamento
Esse sonho agora friável

Quem me dera, meu amor
Poder tocar-lhe o rosto
Apagar de meu peito antiga dor,
Esse rancor imposto
Descobrir seu olhar que me segue
E viver enfim,
Viver de alma entregue

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um velho chamado Paixão

Rugiam os passos do velho manco
Suas pernas tortas tateando na solidão
Seus olhos mortos molhados por encanto
E sua alma crua exalando podridão

Sedento de risos e roçadas
Em busca do álcool e da velha fumaça
Perambulava vadio por lembranças inventadas,
O velho que chamara a morte por pirraça

Era caolho e perdera os dentes
Antigo pirata de amor roubado
Afogou-se em prata e sonhos reluzentes
Querendo falecer de falsos pecados

Com o tempo engasgado em sua alma,
Embriagado pelo ciclo da eternidade
O marujo carcomia com calma
Os sonhos da irreverente mocidade

E o velho hoje preso ao chão de paz
Carrega em suas trêmulas mãos lânguidas
Os ossos do amor que jaz
Cantando com atraso a verdade cândida

"Se assim vivendo
Tanto anseio morrer
Imagine morrendo
O quanto irei viver!"

E agora
Correm os pés do velho manco
E sem hora
Suas pernas tortas abandonam o destino
E agora
Seus olhos vivos encontram o encanto
E sem demora
Ele parte com tiro repentino
E chora
Partindo sem melódica memória
E implora
Para lembrar do sonho seu
Mas sem glória
Parte o velho e sua história
Sem lembrar-se que morreu

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Je porte le monde dans mon ventre

De tanto beber os outros
Acabei por embriagar-me
Tornando-me todos
Dans un corps de larmes

Virei suas angústias
Provei seus amores
Vomitei suas injúrias
Engoli seus impudores

Tenho o mundo em mim
Os homens e os sonhos
C'est vous que je suis,
E suas almas que componho

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Engulo o que vomito

Extirparam de meu sangue os verbos
Minhas palavras, tão suas
Escorrem tão impuras, não mais nuas
Demonizadas por insultos cegos

As labaredas da poesia esfriam
Acompanhando seus passos tão humanos,
Puros, malditos; e me evitam
Abandonando a brasa cálida de meu canto cigano

Isenta da culpa por injusta insensatez
Sua indiferença invocou minha ranzina razão
Por incontroversa paixão e incontida estupidez
Sufocou minha mente e perdeu a honra do perdão

E meu corpo que outrora fervera por suas sóbrias promessas
Agora falece na falta de seus olhos cândidos
De seu toque morno em meu sono desperto,
Seus lábios moles em minha força lânguida,
Seu riso impuro em meu peito aberto,
Seu canto a desvirtuar-me sem pudor
Com a inocência do imprudente, incerto
e prometido amor

E você, que estacou meu temido tempo!
Sem som largou-me nessa lógica solidão, tão manjada
E eu que me via acostumada,
Sem saber que não se almeja a sinceridade da ilusão

E você, que libertou meu tormento virulento!
Há tanto prisioneiro da perfeição
Fez de meu corpo um poço de consentimento
E obrigou-me a contentar-me com insuportável suposição

Pois faça de mim aquela que deseja
Agora que já não pertenço a sua perdição
Serei ela: seu corpo, seu sorriso, sua certeza
Pois de mim só resta a carcaça oca da desilusão

Pois sou sua, não mais que minha
E a intensidade que te pertenço
Equivale ao exagero da poesia
E à dor que dispenso

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A trabalhar

Eu vou pra festa do Chacal
Fazer da vida um bacanal,
Uma orgia de paixões sem fim
Enlouquecer o anjo Querubim
Vou viver assim, sem caminho
Seguindo o destino pelo qual definho
Por prazer, revolta e vício
Vivo e morro,
Voltando sempre ao início

sábado, 3 de outubro de 2009

Um bosque chamado desamparo

Como puderam teus olhos de vidro
Ao me amarem, despencarem em solidão?
Seus cacos rasgando-me em castigo,
Um deles perfurou meu coração

Desses cacos fez-se esta rua
Ladrilhada com diamantes de sangue
Donde agora padece minha alma crua
Enterrada ao fim, num bosque sem nome

E o anjo que por tempos me amara
Que nu de mim, fizera-me me entregar
Agora estende os braços com tara
E sem olhos rouba-me o olhar

Cega, cedo à loucura
Ao vício e aos sonhos risonhos
Morta, mato a ternura
E vivo de esperanças que indisponho

Mas desses cantos bisonhos
Nenhum fez-me enxergar
Pois continuo amando o anjo
Que por medo não soube me amar

terça-feira, 29 de setembro de 2009

La parole à la Paresse

De quem é a culpa por meu pranto?

Culpa minha, que corto o encanto

E calo teus impulsos de ardor

De quem é a voz que me desvenda?

É a do mundo, de rouquidão horrenda

Que rotula teu impudor

E este som que me desvaira a carne?

É a vida que lhe passa cheia de charme

E promessas de amor

E esse cheiro de solidão que exalo?

É o perfume da rosa que apunhalo

Para encher-te de calor

Mas que desgraça ter a graça roubada por teu desgosto!

Não é a graça que lhe é tomada, mas bem o oposto

Pois de vadiagem morre a Dor.

Então a libertinagem salvou-me da desgraça?

Minha cara,

Tua alma devassa calou com cachaça todo e qualquer rancor

Mas fadou-te a beber do amor

E engasgar-te na fumaça

De tua própria trapaça,

Morrendo no pico do esplendor

Mas sem nunca degustar da calmaria,

Do mar em terra fria;

Viverá apenas de morte contínua

Renascendo a cada dia para a quebra da rotina

Minha querida,

A libertinagem fadou-te a morrer de alegria!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quando mentem os poetas

Já se foi o tempo de ternura e tentação
De beleza e inspiração

O tempo de sofrer por assassino amor
De chorar por querer a dor

Tempo em que a razão não me impedia
De amar quem me agredia

Tempo em que o pecado era desejado com atraso
E o afeto então abortado

Deste tempo nada restou além da cicatriz
Deste sonho digno de casta meretriz

Deste tempo vejo a candidez se esvaindo
Meus versos morrendo e meu coração fingindo

E agora o que escorre de meus lábios é a podridão
Meu hálito mefítico de pecado e desilusão

Agora o tempo pára para apagar minha dor
Reduzi-la a uma lembrança sem valor

O tempo pára para me dizer
Que amar não é apenas sofrer
Tampouco esquecer
Ou aceitar
Renegar,
Mas gritar
E lutar
Por seu querer

Então veja só!
Todos estes anos de falso amor
Minha saliva restringiu-se ao impudor
Meus lábios cerrados
Meus atos acalentados
Por aqueles por quem sonhei
Aqueles que nunca de fato amei

domingo, 27 de setembro de 2009

As 130 primaveras

Se as flores, as rosas
Não fossem assim tão venenosas
Quem sabe não teria minha mente uma chance
De aceitar enfim qualquer romance

Se não levassem tantas primaveras
Para ter meu corpo junto ao seu
Quem sabe minhas lembranças não quedariam velhas
E eu ainda seria aquele "eu"

Se meus sonhos forem a esperança
De relevar então um mar
Quem sabe eu volte enfim à dança
E possa por último sanar

Quem sabe com teu corpo
Me volte a real poesia
Pois saiba que mesmo morto
É o amor minha única alegria

...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A verdade é que minto

Por noites tentei admitir
A alma que me vem no carnaval
Tentei sem êxito fingir
Que essa dor não passa duma ânsia carnal

Por dias quedei a ouvir
Que tenho predestinado um futuro individual
Que a leviandade de meu agir
Me condenará à solidão liberal

Mas digo logo e digo breve
Quanto maior for meu ímpeto libertino
Mais estarei entregue
Ao amor genuíno

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Que maravilha!

Quando provo de teu sabor, ai amor,
Sinto flores brotando em meu peito
Seus espinhos encravando em meu futuro
E meu sonho se tornando meu maior defeito
Por guiar-me nua no escuro

Quando me apego a teu calor, ai amor,
Sinto palhaços alegrando meu corpo
Sinto minha carne solta, entregue a todas as outras
E meus seios rindo de meu rumo torto
Vestidos por tuas leis frouxas

Mas quando deixo seu corpo, ai amor,

Sinto a percussão de tambores passados
Já então esquecidos por minha alma rendida
Ao domínio de homens domesticados,
Anjos de verdades acudidas

Ausente de amor, ai amor,

Vejo a pornografia de meus olhares
Cedidos à carência humana
Vejo a vida em todos os lugares
Embaçada por minha visão mundana

Carente de amor, ai amor,

Vejo a indesejável realidade
Só vejo a desgraça, só a desilusão
E mesmo louvada por minha libertina idade
Sua falta desatou o nó da solidão

Sem teu amor, ai amor,

Me escondo nesse canto,
E retorno à minha ingênua infância
Iludida, me encanto
Com qualquer cândida esperança
Indiferente a dor,
Sou só uma criança,
Sou só uma criança,
Ai, que bom ser criança
E não sofrer por amor

Não sei se é azar
Ou benção
Mas não sofro por amar
Só por ilusão

A incompreensibilidade da mente (ou sua evidente estupidez)

1 É engraçado quando a vida me canta: Aproveite a alforria e viva da boêmia euforia
2 Engraçado porque já perdi minha cabeça,
3 A esqueci na estação de trem
4 Quando vi meu amor passar sem alegria
Decidi viver da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões.
4 Quando vi meu amor passar com indiferença
3 Lembrei-me dum passado que me convém-
2 Entediante, porque já encontrei minha pressa,
1 É entediante quando o rádio me canta: Obedeça a tirania e morra de maquinária covardia

sábado, 19 de setembro de 2009

A feiura está no amor

Posso o mundo benzer
Posso fazer chover
Posso a miséria combater
Posso o futuro predizer

Posso fazer-me bela
Posso deixar-lhe sequela
Posso tornar-me singela
Posso virar a donzela

Posso pertencer ao mundo
Posso tornar-me bixo imundo
Posso ser vagabundo
Posso ser rato iracundo

Posso até voar
Posso fingir dançar
Posso domar o mar
Posso a morte evitar

Posso andar nua
Posso ser da rua
Posso roubar a lua
Posso virar perua

Posso tudo que posso só para ser sua

Um poema ruim às vezes faz bem

Não é preciso ser ator
Para fingir a vida

Não é preciso ler Goethe
Para morrer de amor

Não é preciso tudo negar
Para acreditar na paz

Não é preciso ódio
Para aliviar a dor

Não é preciso Marx
Para negar o sistema

Não é preciso a anarquia
Para almejar a liberdade

Não é preciso ser covarde
Para fugir do tempo

Não é preciso chicote
Para fustigar a mente

Só é preciso nessa vida errante
Sacrificar o próprio corpo
Em prol da liberdade narcotizante

Ou seja,

Dane-se tudo, seja você seu mundo:
Ame sem poder, sem saber e sem querer
Faça o que quiser
A polícia é pouco para a alma
As regras são nulas frente ao viver
Viva, viva, viva, viva
Escreva o que quiser
Escreva pra você
Os outros são nada frente ao morrer
Leve em seu caixão um sorriso na mão
E álcool no coração
E viva, coma a vida
Vire a vida
Morra de vida!

domingo, 13 de setembro de 2009

Mulheres da vida (Inacabado)

Lisbela riu das pernas tortas de Mário
Zombou das rimas mortas de solidão
Sorriu para seus sonhos de escárnio
E decidiu ceder finalmente à paixão

Carla quis caçar o corpo de Caio
Encapetada pelo prazer visceral
Ardeu quando tocou seu lábio
E decidiu viver de satisfação carnal

Emília entregou-se a um homem sem nome
Movida por um desejo perverso
Descobriu-se amante de Ivone
E amou o sexo ao inverso

Carolina viveu para Ricardo
Espancada e dilacerada por falso ardor
Logo livrou-se do maldito fardo
Para nunca mais gozar com amor

Lolita dividiu sua solidão com Oscar
Acostumando-se com sua inigualável perfeição
Mas entre os dois ficou o mar
E ela agora vive de ordinária paixão

Leila há muito amou Giraldo
E este muitas outras amou
Até o dia em que, irada,
Leila com dois tiros se vingou

Joana suou ao sorrir do jovem Sandro
Ficou dias a delirar com sua puberdade
E ao finalmente realizar seu plano malandro
Foi presa por roubar-lhe a virgindade

Maria perdeu para o mundo seu homem
Por duendes e unicórnios foi levado
Pois garoto no mato vira lobisomem
E mulher na sobriedade é pecado


Outras virão.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Para os fantasmas andantes

Meus pêsames para os que temem a subversão,
vulgo lucidez
vulgo liberdade
Para os que temem o amor,
vulgo insensatez
vulgo insanidade
Para os que temem a paz,
vulgo candidez
vulgo igualdade
Para os que temem a simplicidade,
Para os que temem a ida,
A volta;
Para os que temem a derrota,
Para os que temem a revolta,
A paixão;
Para os que temem o exagero,
Para os que temem o excesso,
A ilusão;
Para os que temem a ação proibida,
Para os que temem a transgressão indevida,

Para os que temem, enfim, a vida;
Meus pêsames.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Meu fim por esses belos pecados

Isso que controla minhas mãos
Tornando-me animal de escárnio,
Esse bicho inglório
Carente de razão

Isso que me define capaz
Num momento de ingrata euforia
Tornar-me capataz
De minha própria alegria

Isso que esclarece meu viver
Que faz de mim meu títere
Empurrando-me no passo do querer
Fazendo do mundo minha síntese

Isso que planta em meu peito a ventura
De saltar nas incertezas
De rir com pura ternura
Mas fazendo de mim, hélas, ingrata burguesa

Isso (que canta em mim), a libertinagem
Faz de tantos erros minha glória
Lota meu corpo e coração de vadiagem
E faz do amor a verdade simbólica

Verdade que infiltrará em meu sangue
Penetrará por todos orifícios
Até que minha carne se zangue
E rebente por suplício

A paixão voará então pelos ares
Afastando de cada homem os males
Deixando-me no mundo como mártir,

Meu corpo explodido de amor
O sangue jorrando amor
Meus olhos, mortos de amor
Minha vida, morta por amor

Ai, quem me dera tão honrosa dor!

sábado, 5 de setembro de 2009

D'accord

En fait, c'est mieux comme ça
Mes larmes ne seront pas de sang
En fait, c'est bien que tu ne m'aime pas
Ma colère ne durera pas longtemps

Laisse moi partir, ne t'en fait pas
Ma désilusion va prend soin de moi
Laisse moi sourrir, je ne t'aime plus
Même si je t'aime pour toujours




Mais c'est bien, j'y vais
Si tu ne m'aimerais jamais.

domingo, 30 de agosto de 2009

Álcool e alma- só outro pretexto para sambar

vem, pão e vinho
abastecer o vazio
de meu saber
gira, vira o mundo
traz o homem moribundo
pra me querer
cai, vomita e tira
essa bizarria
dentro do meu ser
vai, mas traz de volta
essa alegria e revolta
do meu viver.
olha, me leve contigo
e leve consigo
meu jovem amor
olha, não ligue pro falso,
meu singelo e descalço,
inusitado amor
vem, me pega e me leva
me gira e se entrega
vem perder o pudor
vai, suma e consuma
doutra nova alguma
mas traz de volta o ardor
pois veja, mesmo assim rochoso
meu coração indecoroso
quer pulsar por teu calor
pois sinta, por minhas veias ébrias
correm todas as misérias
e júbilos desse bisonho amor
mas por favor, não deixe
que esse galanteio
vire esquecido recreio
só agora, não desleixe
ponha teu amor em meu seio
(pois sem teu sabor, vagueio)
até onde o tempo nos leve,
sem que a rotina nos supere
e a paixão desvaneça
e o fim nos apeteça
e leve meu amor, ai
e leve meu enganoso amor

domingo, 23 de agosto de 2009

Tripalho

Amanhã verei o samba chegar
O amor balançar
E a platéia sorrir

Ontem vi a dor se afogar
O patrão se matar
E a miséria sumir

Mas hoje acordei dum sonho, ofegante
Recitei a verdade narcotizante
Para alguém comigo acordar

Mas se agora os cegos andantes
Marcham o hino, ignorantes
Como eles hão de se indignar?

Se esses animais transcedentes
Fadados à cegueira imanente
Morrerão sem ver,
Quem há de humanizá-los?

Esses macacos domados,
Quem há de salvá-los
Do sistema inexorável?
Da rotina intragável?

Pois sendo pródigos em esquecer
Ao enxergarem sem ver
Cederão à cômoda cegueira,
Permanecendo na estupidez mundana,
Na insensatez derradeira,
Na eternidade profana

Pois prezando assim a solidão
Dando à divindade toda a razão
Vivendo assim na superficialidade
Banalizando a real idade

Morrerão todos sem ver
Vendo o que os olhos rotinizaram
Acreditando no que os olhos ofuscaram
Viverão numa eterna leprosaria
E os olhos lhes negando a verdadeira alegria

Os olhos! Os órgãos!
Negarão todo o saber
Nos afogarão em hediondo sofrer
Pois não é sempre que ao fixarmos o espelho
Podemos nos ver

domingo, 16 de agosto de 2009

Nós, saltimbancos

Será que jamais perceberemos
Que é a vaidade que nos iguala
E a humildade que nos distingue?

Ânsias sandias

Quero a diferença
Prezo a bizarria
Quando a mediocridade anuvia o talento
Quando a eternidade dura um dia


Morrerei de primorosa overdose
Despojada de regras
Condenada pela cirrose
Iludida com um amor piegas
Embriagada de erotismo humano
Satisfeita com o prazer vicioso
Descobrirei o sexo de um anjo
Aceitarei o afeto indecoroso,
O afago inebriante
Viverei da sedução etérea
Viverei o instante
Navegarei com a intuição
Neste mar sem fim ou limite
E
Ao invés de reformar a paixão
Esperarei que ela ressuscite
Preencha meus seios
Toque minha pele
Roce em minha mente
E serão os mais puros devaneios
Que farão com que eu enfim me entregue
A todos esses anseios


E acordarei enfim dum sonho
Que durou 18 anos inteiros

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre o óbvio ululante

Sobre a juventude, analiso:
Ou temos sorriso,
Ou juízo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Revés conveniente

Minhas mãos nuas nada portam além da humildade
Não carrego armas, mas modestos versos
Como os vê nobres? Eles se banham na vulgaridade
Se cobrem de miserável simplicidade
E para enganar minha dor
Camuflam-se em serena histeria
Para fingir o amor
Afagam-me com agradáveis bizarrias
Ai, lamentam em meus ouvidos uma perda
Uma perda, em minha mente, inexistente
Mas que fez de meu coração
Esse órgão veemente, delinqüente
E é tudo incoerente
A dor se esconde em meu intestino revirado
Dilacerado por promessas fantásticas
Ai, de tão pura fantasia
Meu saber já rasgado
Acreditou noutra compania
E eu aqui, arregaçado
Choro por tão cruel idolatria
Choro pela peça de minha mente
Que marota, recitou uma paixão
Que só tocou um coração
Mas que por florescente troca
Abriu esses meu olhos
Pra mais nova ilusão

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Curto lembrete

Essa vida de rimas
Me fez acreditar
Que agora dançando
Aprenderei a amar

Para Carolina

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Estava implícito

Ora, minha poesia é a dança da mentira
Do exagero, do falso desespero
Não passa da afeição
Por lograr o coração

Portanto não se preocupe,
Pois minha mente é calúnia
Meus versos oblíquos
São forjadas petúnias

Meu corpo se inunda em paixão
Minha pele exala amor
Não creio na razão
Mas de tanto temer a solidão
Minhas mãos teimam na ilusão
De entulhar-me com falsa dor

Nunca cedi ao hábito condicional
Nunca pensei antes de atuar
Nunca neguei um apaixonado olhar
Nunca restringi-me ao pecado carnal
Vivi ousando, recitando a ventura
De ser livre, animal

Portanto não se inquiete,
Por trás das rimas de amargura
Há uma criança já entregue
À nostalgia delirante do amor irracional,
Incondicional, encravado em minhas entranhas
Correndo em meu sangue morno
E subindo-me à cabeça, levando-me à loucura delinqüente
De viver da paixão, e dela somente

domingo, 12 de julho de 2009

Tango de Lola

Deito-me num leito de palavras
Umas certas demais
Outras, excessivamente malogradas
Banho-me em lágrimas solitárias
Ainda que unidas no embrião
Rolam em minha pele, solidárias
Afogando minha solidão
Observo-me num reflexo sorridente
Mas minha mente não se mira na mentira
Sabe de meu contentamento descontente
Em ver na distorção uma alegria safira
Recordo-me de noites lancinantes
Dos pecados e pecadores
Das promessas murmurantes
Dos olhares embriagadores
Dos tocares palpitantes
Dos suspiros provocadores
Dos gemidos ofegantes
Dos momentos gozadores
Dos minutos restantes
Do sorrir dos consumidores
Os triunfantes, os simpatizantes
Os administradores, os pintores
Os tolerantes, os repugnantes
Os sofredores, os saqueadores
Os traficantes, os humilhantes
Os agressores, os pagadores
Nenhum apagou minhas dores
Ou pagou meu orgulho vacilante
Hoje perguntaram-me sobre o amor
Mas de tantos amantes
Restou em meu corpo somente o temor
De outras noites luxuriantes

Toscos anseios

Atuo o ato do torto temível
Da descrença do destemido
Do amor amargo e amolecido
Vivo vendo o viver vencido
Pelo pressuposto da paixão
Que quebrou cada quimera
De cada cansado coração
E essa exorbitante emoção
Preenche meu peito
De inviável ilusão

Delírios dispersos

E por nunca me entregar
Fui condenada a ser minha
E ainda que o espelho me sorria
Amor não há
Sem qualquer idolatria

Minha ilusão já me tomou a certeza
Mas que alegria! Jamais quis a pureza
Da absolutamente estável razão
Quero mais a insensatez, a aventura
A imprudência, a loucura!

Dizem por aí
Que amar é se entregar
Cantam por lá
Que amar é se enjaular
Digo por aqui
Se submeter a um é aceitar a decrepidez do coração
É se sujeitar
A viver sem a esperança e a ilusão
É renegar
O amor de todos, animal
Do natural se esquecer
É, por fim, trucidar
A verdadeira essência do ser


E pela relutância de minha mente em se entregar
Decido logo que mesmo atentando,
Enraizando meu coração na razão
Deixarei para depois o tango
De esmera e pura paixão

Para agora, digo logo
Não darei a mão ao vento
Ao incomutável presente
Frente a solidão, alento
Pois da libertinagem se exclui o amor impertinente

terça-feira, 7 de julho de 2009

À jactância de todos os homens

Se de minhas calúnias
Fogem teus sorrisos,
Se de minha fúria,
Surgem teus motivos

Cale-me logo, antes que me emudeça
Já que fora tão sincera minha pureza
Diga-me qual minha certeza
Já que é tão clara minha transparência

Se outros olhos despem minha alma
Quem há de ver a calma
De meus falsos suspiros,
Agora que com o tempo iro?

Se de minha dor vazasse a verdade
Se meu corpo aclamasse meus atos
Se da vida restasse a sinceridade
Se não existissem amores caricatos

Saiba que sobreviveriam os incertos delírios
As incertas rimas rogariam com solidão
E por meticulosa vaidade
Incitariam espontâneos suspiros
De deleitosa e terna ilusão

Mas se em meus sonhos não se manifestasse
A molesta, ainda que inevitável dor
Veja, minha mente jamais provaria do amor!
Pois sem o pesar não vejo a ventura
Sem o gelo não fervo com calor
Meu corpo não amolece sem a amargura
De outra inviável boca de ardor

domingo, 28 de junho de 2009

Antes de nos tornarmos banais

Me prende, me vence
Ela me quer nu
Pra ver o tempo passar
E o amor chegar
De jeito tocável.

Se lembra quando o amor
Ainda era saciável?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Boca de almas

Em seus corpos encontro a solidão impura
E em suas histerias enxergo a calada poesia
E de suas angústias faço rimas de injúria
Sou suas fantasias,
Suas libidinosas miragens
A mentira anônima
Sou a alma de seus personagens
Sou uma constante heterônima

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sei meus limites por ter visto o que há além das fronteiras impostas

Vou me atirar
em meu mar
Pois se não viver do oceano
Cavarei minha própria cova
Na terra batida de rotina.

Donne-moi tes amours, ta vie, ton sourrire- je ne peux plus mentir

Cansei do tempo
Do Tempo imprevisto
Do tempo para provar
Do tempo que os poetas levam para amar
E o Tempo cansado de esperar
Para provar que o que os poetas cantam
É o que sei atuar
E o tempo de arte ilustra
A tão ilustre dança
A qual sem tempo não pude dançar
Sem tempo não pude aprender
A te amar
O Tempo roubou-me o saber
De como viver
Sem minha doente solidão
Jovem pureza
Me entrega à certeza temporal
De que o que dizem os poetas
Em meu corpo é ilusão


Mais ils ont brulé mon amour
Ils ont acheté mon coeur
Pour un peu de chaleur
Et um morceau de passion

Vou matar o Tempo

Nos querem todos iguais

A lucidez de meus erros a assusta
Ela, dengosa, me enleia
Me afana, me usa, me abusa
E meu corpo incendeia

A perdição de meus atos a seduz
Digo breve calúnias do coração
Ela me responde com olhos de luz
Muda, recita a solidão

Eu, louco, retiro-me em meu corpo
Oco, ela tirou-me minha razão
Minha quimera perdeu-se em seus lábios
Eu quero prazer, quero seus seios vários

A menina ama pra pagar
Os sonhos de futuro amor
Mas de pirraça, não há de amar
Os calados corações que iludem com seu ardor

Hei de falecer por teu sorriso
E do álcool viverei por regozijo
Pois se em outros corpos ela me ama
O que faz em minha cama?
Senão manter a falsa precaução
Sem saber que ao me amar ela alimenta
Minha necessária solidão

terça-feira, 23 de junho de 2009

confissões embriagadas

e agora me pergunto
se enfim aprendi a amar
os fatos relutam
e me ensinam a forjar

forjo em meu grito a dor
em meu gemido o amor
em meu sonhos o ardor
de quem nunca aprendeu a viver

de tanto dançam
a poesia do sorrir
de tanta paixão já me esqueço
de que amar não é sofrer

de tanto amam
sem saber dizer
proclamam, recitam
palavras sem sentir

minto, canto
me engano, te amo
mas logo verá
que minha dança é decorada

pois em teu alvará
nada resta além da dúvida
em meu canto, embriagada
sofro nua

sem saber como gostar
sem aprender a amar
sem saber se o que amo
é de fato o forjar

então admito logo:
do que gosto
de fato
é me enganar

sábado, 20 de junho de 2009

Jamais me entregarei

Essa exatidão temporal me cansa,
me entulha de deveres,
me rouba os prazeres,
impõe a desesperança- sou incerta, viverei na contradança

terça-feira, 9 de junho de 2009

Gozemos em harmonia

Quero da rosa solitária
O perfume furtado
Da brandura ilusória
O valor deslustrado

Quero pela arte negar
Esta dor controlada
Por um sonho vulgar
Da vida emancipada

Quero seu corpo perder
Pois de tão usado, já me canso
O forjado viver
Não mais amo, canto

Cantam a frigidez do ser
Cantam a perdição da rotina
Canto o vício do prazer
Canto minha razão aguerrida

Se hoje a ilusão não é capaz
De recuperar a pureza do pecado
Ao aliarmos massificados cantos
Estorvaremos o porvir condenado

Se na utopia nos esquecemos de crer
Se a paixão deixou então de ser
Todos os corpos devo amar
Para enfim à liberdade retornar

Quero da verdade simbólica
Recuperar o homem perdido
Quero do prazer simplório
O real inibido

Quero ao longe amar
Ao som mais virginal
Quero na vida sambar
Com meu ímpeto animal

domingo, 31 de maio de 2009

Sou nosso desejo

Eu assim
Dentro de mim
De você
De todo o ser
Nem lá
Ou cá
Ele
ou
Ela
Seu desejo
A vontade dela
Sou sertanejo
Sou donzela
Sou o mundo
Da janela
De seu quarto
Sou o parto
Iracundo
Sou aquarela

terça-feira, 26 de maio de 2009

Eu, neles: por mim

Menina, imagine só
Amar a dois
A três
Amar o freguês!

Menina, que bizarria
Engasgar com a fumaça
Do pecado e da desgraça
De tua compania

Menina, tire esse verniz
Largue meu coração
Deixa ele feliz
Aceite essa paixão!

Ela me tem
Quando faz graça
Ela é atriz
Anda nua
Quando me enlaça
Ela é feliz
Sem ser sua
Nem de ninguém

sábado, 23 de maio de 2009

Rosa vermelha, dilacerada

Desfeito,
O fato remete enfim às atendidas lágrimas
E estas, sem escorrer, se escondem na dúvida
Do quanto foi feito
Ansiando por virar enfim as páginas
Deste romance de constante lamúria
Sigo cega, cedendo à vontade
De viver da solidão impura
Pois pelos horrores sucedidos em meu corpo
Que rompido sangra, morto
Desejo entregar-me fielmente à loucura
Esquecer-te enfim, com amargura
Pois teus versos nulos, nunca proclamados
Enterraram-me arfando numa cova em chamas
Junto a outros corpos dilacerados
Rompidos em outras camas
E que unidos, recitam
Em uníssono mórbido
"De tanto falso amor
Por teu lábio sórdido
Falecemos por ardente dor
Em paixão ilusória
Que por perfídio ardor
Levou-nos sem glória"

Tu, que roubaste minha pureza
Há de se lembrar
Que por tê-lo feito sem destreza
Há de chorar
Por perder minha certeza

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Maria

Olhe no espelho, mulher aflita
Assista o mar que inunda tua face
Tão doce, escorre
Por essa dor bendita, finita, restrita!
Ela é João, é Maldita
Mulher cretina
Alberto, Rita...
Garota esquisita,
Abraça a paixão e implora por amor
Fecha a mente e vive sem supor
Que tão certo quanto seu ser
Somente um outro que ame viver

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Desfecho

Você que canta
A maledicência do amor
Venha e perceba
Que em mim não existe dor

Talvez por não saber amar
Eu saiba viver
Me apaixonar,
E aproveitar a boêmia plenitude do ser







E às vezes, quem sabe, mentir
Só pra no aperto poder sorrir.

Incompleto

Olhe amor, por aqui lhe digo
Percebo enfim tua agonia
Pois outra paixão que fustigo
Deu a castigar-me com louca alegria

De todos os olhos que dissimulei
Aqueles abraços que forcei
Os livres e ingênuos
Calados e obscenos

Os que amei pertenciam a outro
Que em minha desilusão jaz
Pois este mesmo fustigou-me
Com doce mentira fugaz

Agora sei, meu amor
A causa de teu pavor
Pois a mesma quimera que te amou
Quis se apaixonar
E olhe só! Agora estou eu a lamentar

Ah, quem me dera saber amar!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Meu bem-aventurado viver

Passou nas nuvens o raio da inovação
Matando os pássaros da ilusão
Pegou-me de jeito no precipício
Entrou por mil orifícios
Saiu com o sangue morno
Limpando meu corpo insano
Despindo minha aurora
Gerando o puro fogo
Que queimou meu engano
Da memória

Que esqueço
Emudeço
Endoideço
Ensurdeço
Transpareço
Embruteço
Amadureço
Esqueço

E volto à glória
"Vem canto e flor,
Estrela que canta
Mentiras de amor
Vem e me encanta
Me leva nesse movimento
Vem salvar meu povo
Vem me dar alimento
Vem me amar de novo!"
"As flores em que pisou
As flores em que pisa
O pecado que amou
Que te imuniza
Elas vão crescer de novo
Ele vai te amar, o novo
Elas vão crescer de novo
Você vai amar por todo."

E volto sóbria,
Sento na lembrança
Penso na vitória
De ser criança...

E penso eufórica
Ainda sou menino!
A diferença simbólica
É que agora bebo vinho.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

À vossa alteza: a verdadeira essência da vontade.

Que merda essa eternidade que não passa
Que me desgasta
Toda essa convenção sem razão
Me mata de tédio
E me rouba o tesão

Vou-me embora,
A lei botou-me pra fora
Desistir?
Só em boa hora. Não agora:
Ainda tenho uma vida a seguir

Ai que delícia
Fazer um poema sem beleza
Viver da preguiça
Sem querer ser realeza.

Eu e ela e vice-versa

Alternativa? Livre fingida.
Lúcida? Cega distraída.
Livre? Discretamente reprimida.
Cega? Irremediavelmente aguerrida.
Exata? Eternamente perdida.

domingo, 3 de maio de 2009

Me armo: irei à Roma onde mora meu amor.

Aperta o peito
O aperto
Apalpa
Meu sentimento

Apaga a paixão
Apartada
Afaga
Minha desilusão

Perdi meu corpo
Dilacerado
Não vou chorar
Por errar
Não vou perdoar
Essa maneira de ser
De não saber sofrer

Minha amada,
O que se passa
Em nosso amor?
Por que procuras
O que não existe?
De tanto falso ardor
Ninguém desiste
De te amar
De te querer
Mas que dor que dá
Ver outras lágrimas
Ver tudo se perder
Em outras lágrimas
Ganhar a dor
Por tuas lágrimas
Acreditarem no amor

Não vou chorar
Por te perder
Por mortificar
O meu viver.

.

Que meus olhos cegos
De saber
Aprendam logo
A sofrer

.

Sem amor não sei viver
Não vivi
Nem vi
Você viver

sábado, 2 de maio de 2009

Miami

Eu, errante
Amante da solidão
Ser constante
É sofrer sem razão

Sou quantas você quiser
Mas vou eternamente ser
A mulher
Que seus olhos não podem ver.

domingo, 26 de abril de 2009

Entulha tua Carne com Paixão que o Jantar já, já será servido.

O Feio e o Saber
O Saber e o Viver
O Amar e o Querer
Se apaixonar e sofrer
A Carne e o Amor
O Sexo e a Dor
A Dor e a Vontade
A Culpa e a Idade
A Dúvida e a Saudade

Dá-me o que quero
Mesmo sem saber
Quero a carne
Entulhada
Entalhada
No viver.

Caminho para o sucesso

Quando encontrei enfim a solução
O tão glorioso fim
O início da razão
Segui sem hesitar
Por um caminho estranho
Enfim
Começo a pisar
Em carne ossuda
De gente já padecida
Na miséria e injustiça
Velhos moribundos
Crianças esquecidas
Trombadinhas, Traficantes,
Falecidos no mundo

Logo paro,
Peço perdão
Por contribuir com tão lastimável situação.
No caminho para o sucesso
Não me ensinaram a amar a ilusão,
A massacrar a realidade,
A viver do hostil,
A ignorar o febril,
A vangloriar o imbecil,
A aproveitar-me da desgraça
Da descrença
Da desilusão
De meu mundo
Chamado Brasil.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Éramos nós

Como é frágil, morena
Um sentimento falso;
Um nó frouxo
No novelo do mundo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Falsa Pretensão Solitária

Calar sem querer
Rir sem saber
Sofrer por não ter
Lembrar da ilusão
Por que é tão dura a paixão?
E ainda tão simples de descrever...
Todos os olhos dançam
Na mesma fórmula de amar

De minha memória já vaza teu sorriso
Escorre
Ácido, queima.
E minha ilusão morre.
E ainda, insisto na dor
De amar o impossível
Vejo em teus olhos outro ardor
Definho pelo falso imprevisível

Cedo-me portanto ao inevitável
Ansiando tuas mentiras
Minha verdade adorável
Minha vontade inibida
Calo-me quando o amor quero proclamar
Num fingido sentimento!

Engano-me portanto acreditando
Que teus lábios sabem amar
Suspirando, recitando
Murmúrios a difamar

E ainda, por eles renegarei a razão
Mergulharei nessa sincronia absurda
De louca, bela e cretina paixão
Entregarei-me à solidão surda,
À tão linda e certa ilusão

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Confissões de um cego

Ando embriagado
Falecido na vida
De tão acostumado
Viro a mentira indevida
Ando sendo humano
Despertando despido
O amor, afano
Sou injusto e falecido

Pelo impossível suplicável
Indubitável me privo
Defectível dançável
No viável eu piso

Sou mefítico ser-humano
Condenado a ser humano
Cansado de embaraçar
Fatigado de negar
E que engraçado,
Amado por não amar

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Todos os olhos do mundo

Passo sem solidão
Me apaixono sem saber
Podemos nos amar
E não sabermos o que dizer

Antropofagia

Ai, que moça estranha
Olhou-me com fome
Quis me mastigar
E de fome tamanha
Me carcome
Com seu olhar
Ai, que moça estranha
Não sei se está despida
Ou se dorme distraída
E anda pelada
Desfilando a alma imaculada

Funesto conveniente

Engano o mundo tolo com versos fracos
Finjo o amor bobo com versos falsos
Cedo à poesia chula com versos comuns
Rimo o óbvio previsível com versos ralos
Versos sem obrigação
Ruins
Naives
Imaturos
Assinados pelo coração

domingo, 12 de abril de 2009

Facínora

O mundo começa agora, a cada nascer
O Sol traz então a esperança
À imensa dor dos homens
Que nascem para morrer

O passado agora guia
Os passos dos fracos
A lembrança novamente os prende
Ao futuro fracasso

O que sei é tão certo
Sei no que acredito
Sei meu desejo incerto
Sei que não sei saber
Nem eu ou ele
Que não sabe ser, existe ao ter
Mas o que têm é tão pouco,
É vital ter mais
É pouco querer o mundo
Nada nunca é demais

Ele têm o ouro que roubou dum corpo nu
Tem o crer tolo de que os homens cabem a um

Roubou e molestou
O que restava da humanidade
Cuspiu e estuprou
O que um dia foi liberdade

E Criou

O Certo que condenou
A Moral que difamou
A Preguiça que suicidou
A Verdade que enganou
O Poder que enlouqueceu
Levando-nos a esquecer
Do que um dia foi viver
Do que pensávamos saber
Do que agora jaz sobre nossos pés
Preso, ignorado
Corrompido, odiado,
Queimado com outros infiéis

E nós aqui sentados
No ócio sendo igualmente enterrados.

sábado, 11 de abril de 2009

Mata de Algas

O mar lavou o homem
Levou o concreto, trouxe a vida
Caótico, matou o homem
Levou a alegria destemida
Esse céu distorceu a fúria
De um mundo insano,
Que por cretina injúria
Varreu Éden por engano

Agora as estrelas se escondem sob o mar
O céu embaçado ondula
Me escondo com o tímido Luar
Que sem poder, me bajula

E as sombras me cobrem
As constelações me acompanham
Penso no que não vi, elas descobrem
E com consolo me banham

Voando, encontro um espelho
Colossal, nele encontrei as estrelas
Corri, não pude contê-las
Desolada, me perdi; o perdi.

Junto ao luar, o álcool na cabeça
O mar ao alto, sobre o céu caminho
Nada tenho em mãos senão um copo de crença
Nele o rosto que não vi, o que perdi e engulo com vinho

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Súbita queda

Debrucei-me sobre o abismo
De meu corpo
Caí
E me perdi.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Solidão poética

O medo devora minhas entranhas
A dúvida corrói minha mente
Agora que o público está ciente
Do que passa em meu viver

Nua, diante do mundo
Ruborizo, frente à descoberta
Agora minh'alma desperta
Ao sorrir com este encontro mudo

Nua, despida pela coincidência
Sorrio, sem saber se devo
Agora anseio a vivência
Para matar este falso medo

O poeta nem sempre é o ser
A decepção tão mais provável
Que o improvável fato de nos amarmos
Em carne, não em saber

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Iluminação

O pecado, o desejo

Enfrentam o indesejável inevitável

Destroem meu corpo

e alimentam meu viver

O desconhecido me espera

Como havia de fazer

Por que temer agora

Quando tudo já havia de ser?

Quero conhece-la, a tal da Morte

Pois se não a temo,

é por amar viver.

Porque quem diria,

Um dia irei morrer.

Cardíaco

O sol, sem saber, me saluta
Me manda mais outra morte
Carece-me com calma caduca
Pede certa paz de pequeno porte

Tantos tempos tortos
Passaram por minha pobre alma
E agora, dizem mortos
Que padeço em doce calma

O pecado que com orgulho engulo
Agora deu-se a estrangular-me
Traidor, importuno!
Venha logo levar-me

Pois minhas armas aqui estão
O medo jaz há tempos
De vida morreu meu coração
Mas resistirei a estes tormentos

Que venha a Morte me levar
Quero testar a coragem da Vida
Quero vê-la com paixão enfrentar
Para que não seja vista minha alma vencida.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mais de dois milênios confirmam

Divirta-se com a ilusória dor alheia,
Pois uma única realidade não é o bastante para o ser humano.

O falso

Do amor fizeram um vício
Com sagacidade o estriparam
Até não sobrar nem um indício
De que amar não é o que falam

Pois o amor que carrega um olhar
Nos prende à ilusória eternidade
Pois quando o natural é por todos se apaixonar
Nos culpamos por viver com naturalidade

O amor não é por unidade

Então quando me entregar por amar
À carne falecida e oca
As lágrimas que inundarão meu olhar
Serão de uma felicidade louca

Quando me entregar sem hesitar
Aos olhos que me seduzirem de verdade
Provarei ao mundo que ao me revoltar
Aprendi a viver da pura felicidade

terça-feira, 31 de março de 2009

Vadiando

Tentei rimar,
Não consegui.
O som ouvi
Mas não pude amar.

Esperarei pela paixão

Errando e sorrindo
Aprendemos a canção
Não nos importando e rindo
Na cara da razão
Esqueça-se do não, do certo travestido,
Da opressão por nós sustentada
Libere de seu coração enjaulado e reprimido
Toda a repressão infundada
Esteja exatamente onde você quer estar
Errado é o homem que pretende acertar
Não faça nada,
Não deixe com que o nada faça
Espere o mundo ir novamente ao seu encontro
Tirar seu chapéu e sorrir com graça,
Cantarolar a vitória do desejo irracional
E ensinar a viver sem saber, amar sem querer, errar sem poder
A degustar da eterna solidão
Apaixonar-se pelo estranho mortal
E falecer com o mundo nas mãos

segunda-feira, 30 de março de 2009

Canalizando a energia criadora

Num dia, um outro alguém me confessou:
"Tudo que é sólido desmancha no ar."
Percebi então o quão sólida será a tua dor.

Tears of my Love

Hello kid
Do you need some make-up
To fake this world?
Why would you wake up
When all you have is in your dreams?

Hey girl,
Would you turn the lights off?
Would you change the bright of your eyes
And forget these diamond skies?

Hey Lucy, where are your sugar smiles?
Did they drown in the brown of your eyes?
Did it feel so good fooling your mind,
Being part of this sweet lie?

O child, please
Don't go now
It's so soon, the dawn is far
The sun won't let you fall
Won't let you fight your hearts war

So get your weapons now
Gather your dreams and hopes
Forget the ilusions and strokes
And dive in my reality

Then dry your tears, love
Dream your dreams, girl
And accept your fate
You're meant to stay!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Doubt

Ain't the joker gonna catch me when I fall?
Mother should I trust government?
Should I go with the crowd?
'Cause that aint what I have ever meant
Oh mother, what are you looking at?
Ain't the telephone gonna tell my friends?
I've never dreamed of feeling that
I never thought there were other ends
Oh, mother
Aren't you gonna teach me how to lie?
Aren't you gonna teach me to nevermind?
Oh, mother
Won't you fight this war?
Oh, mother, oh mother
Just please, tell me why

domingo, 22 de março de 2009

Falta de saber

Encontrei-me no vício
Ao roer minhas unhas e anotar
Mentir num papel nulo ofício
Fingir cumprir tarefas a ignorar

Com a culpa não me entreguei
Permaneci no vazio fútil
Sem ação, me preocupei
E com o tempo realizei o inútil

Minha agenda lotada,
Sabia o que fazer desde o início
Vendo minha letra, noto apavorada
Esqueci-me de anotar o por que de tudo isso

Lúgubre fim de uma decisão Ditosa

Era um garoto um tanto sumido
Invisivelmente distraído em seu saber
Padecia numa intensa libido
Evidenciada pelo desejo de viver

Certo dia, por um impulso enfermo
Decidiu cantar num rio de lâminas
Provando do gélido inferno
De sua cálida razão lânguida

O líquido que abraçava seu corpo
Cobria-o de nobre ilusão
Afogando-o num sonho absorto
De literatura e sedução

Enfim aceitando a arte da ignorância
Não vendo a falência ou o apogeu
Sem sucesso cantou sua infância
E ao engolir as próprias palavras faleceu.

Colóquio Insano

Agora no silêncio da noite
Senti a brisa fresca tocar
Senti em minha boca o pecado
Lembrei-me de outras noites ao luar
Esqueci-me dos machucados
Deixei o vento levar

Hoje meus olhos sorriram
Por motivo algum quis dançar
Senti em meu peito o pecado
No vento meus sonhos fugiram
E agora estou a voar

Uma bebida num copo com gelo,
Nessa dança, quero amar
Amar o belo o feio, o elo
Amar sem saber blefar

Nada mais importa, vou fugir ao luar
Nada nunca importa, vou me permitir sonhar
Nessa noite de liberdade, quero ver a morte me levar.

Sua mente não quer dormir
Já não sabe mais o que fazer
Quer mudar, quer sentir
Qualquer coisa que dê-lhe prazer

Seu coração quebrado já não quer mais fugir
Já não tens mais do que beber
Quer chorar, quer sorrir
E toda a razão esquecer

As águas que escorrem de sua alma
Já secaram o que restava de sua esperança
Não há mais nada além da falha calma
E duma inútil ânsia

Fala que me ama, mas destrói o meu viver
Me leva pra cama, mas não é infinito o prazer
Promete o mundo, mas dá um beijo sórdido
Reclama do vivido, mas continua no sonho mórbido

Ora, vire e quebre a dança
Rebole logo, criança!
Quando seus olhos negarem perdão
Lembre-se do gim que tens na mão

E engula o mundo com saber
Veja no espelho o que promete seu ser
Ria com os amores que dão-lhe satisfação
Beba com eles da verdadeira paixão

Dê-me logo sua mão, criança
Venha comigo, nesta ilusão da infância
Lembre-se da simplicidade da vida
Viva a felicidade em ti inibida

Viva agora a beleza do viver!
E esqueça logo a agonia de em vão sofrer


Não há beleza no viver, cara amiga
Quando se trata de um amor insolúvel

Então misture-o em álcool peçonhento
E beba doutro vinho de puro contento
Agora pare logo de pestanejar
E venha comigo amar

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Morte e a Desilusão

Seus pesadelos a guiam à realidade, a dor que sente transforma-se em fatalidade, o amor que preenchia parece nunca ter estado, o real fatiga sua mente, a razão implica no desconhecido, a amargura leva ao riso, o sorrir traz o desespero de não saber, o que a cerca já não importa, todo o resto cansa, ela se cansa; a imagem que reflete, os olhos que mentem, as pálpebras que adoecem, o sorrir que jaz ali, a felicidade que ainda está por vir.
E tudo pesa, pesa. Mesmo cercada, o mundo traz a Solidão. Ela a cumprimenta. Ela diz que trouxe uma amiga. Diga olá à Morte.

A menina pergunta o que vem depois, a Morte não sabe dizer, "Meu trabalho restringe-se a levar, nunca buscar, nunca continuar. E eventualmente, salvar.".
Novamente, o Tempo, que corre devagar, que busca os últimos minutos, segundos. Ela não responde. Salvar, repete. Dor, incoerência, uma possível fuga daquela realidade imunda.
Pergunta a razão de as pessoas se reduzirem a um pedaço de carne esquecido. "Elas sempre o foram." Pergunta como uma carne pode amar. "Por que ela não visa a morte.".
Pausa, fluxo de pensamentos, dúvida, dor, desejo de salvação.
"Você não quer morrer, minha cara."
A Morte surpreende a garota.
"Está claro em seus olhos o desejo de vida. Eu sei. Já vi tantos cansados, desiludidos, fracos. Tantos com o amor ainda guardado no peito, sem saber ao certo porque iam e não ficavam. Eles pediam a morte, não a visavam. Eu fui, a pedido, não a vontade. Eu vim, a pedido, não a necessidade. A procura pelo real já é um velho clichê, minha cara, a fuga da pútrida realidade é um luxo de poucos. Inventaram o Inferno para que existisse um Paraíso, para que as pessoas tivessem o mínimo ânimo para viver seguindo as regras, os princípios, os valores. Já vi a ordem, há muito tempo. Natural, animal. Mas não existia o Amor, este é um novo valor. Tornou desnecessário o Paraíso, substituiu a dor, o sofrimento, a solidão. Ah, quantos não se sentem sós, no meio da multidão, perdidos, desiludidos. Ninguém pensa mais, vocês são ensinados a fazê-lo, e quando finalmente conseguem, desistem ao verem o mundo com olhos lúcidos, quando a desilusão é muito maior que o padrão de felicidade. Quem disse que é preciso estudar, pagar, gastar, comprar, vender, dar, casar, procriar, respeitar, considerar, compartilhar? Vocês. Quer dizer, alguns de vocês que pensaram, e ao não desistirem, procuraram soluções para a tragédia que viam. Você enxerga, minha cara. Você sabe, e você desiste, mesmo sem ter a razão. Diga-me a razão."
Ela responde sem hesitar. Sua razão óbvia era a dor.
"Dor? De onde?"
"Não sei. Mas não consigo aguentar."
"Abra os olhos então. Você pensou, está certo, mas não viu. Abra os olhos da mente, enxergue os espectros do amor que te seguem. Assista a dança do mundo em agitada harmonia. Tudo errado. Mas você está certa. Assista os problemas, o abandono, a falta, o excesso. Assista o amor, o céu, o mar, aquela casinha amarela, aqueles sorrisos sinceros. Veja o SEU sorriso sincero. Ele ainda está lá, não é? Você ainda está lá, minha cara. E lá ficará.
Não vou te levar. O mundo precisa de você."
A Morte a cumprimentou, não com um aceno, não com um aperto de mão- mas com uma reverência.

Simples, feio e sincero.

por que essa pose tão rígida

essa paz tão distraída

numa doçura frígida

doutra figura recaída?

o que fizeram, garota

para teu rosto ter essa exatidão?

para onde levaram a menina marota

de suave canto e louco riso?

roubaram teus sonhos,

ou os cumpriram em excesso?

solte-se, garota de manhos

e abrace a infância em protesto!

afinal você já ganhou, querida

já alcançou a vitória

saiu do sertão, esquecida

bebeu do vinho da glória

então pra que se embebedar?

afogar-se na perfeição?

já tens do que se orgulhar,

então tire já os seu pés do chão!

domingo, 15 de março de 2009

Retratos

De minha mente ácida vazou o pecado
Meus lábios dopados golfaram a traição
Agora meu coração busca a ternura
Donde só prevalece a decepção

Quem ditará as regras dos erros
Quando todos já foram condenados?
Quem há de restar por entre os puros,
Os falsos, mórbidos, dilacerados?

Quem dirá que existe um Deus
Quando o homem já o destruiu?
Quem acreditará no Paraíso
Quando o pecado já o conquistou?

A consciência nos leva à loucura
Com seus doces suspiros, insana amargura
A culpa nos leva à afirmação
De que todo esse nojo humano, é nossa invenção

Minha obra, devo dizer
É tão bela quanto a sua
Pintamos unidos, numa linda orgia
De pecados, erros e regalias

Minha obra, ouvi dizer
Já não é a do saber
A perdi. Há tempos.
Já não sou mais o mesmo ser.

Minha obra, há muito quis dizer
Não era nada constante, se quer saber
A tive num dia, mudei noutro.
Sem nexo, sem fluxo. Louco.

Se têm uma obra, deve dizer
Diga ao mundo, ele deve saber
Ignore seu pecado. Já está condenado.
Abrace o desconhecido. Viva o esquecido.


Eu me fui. Já fui. Não sei mais.
Dos meus erros nasce o Jamais.

Arejando a alma culposa

Pra que buscar o sentido? Haha, rio na cara do motivo.
Esqueça, tire a lógica de sua cabeça!
Revolte-se!
E agora, rimar? Quem disse que pra isso é preciso amar?

Busquei quem sou, quem era, quem serei. Não importa mais, nem sei o que é "ser".
Revoltei-me. Não me importo com um poema ruim. Foi só um dia ruim. Um desabafo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Encontro com o Vazio

Seguindo minha sombra, ouvindo meu passo
Hoje vi tão claro o descompasso
Da massa cruzando a avenida
Nas infinitas faces, uma distraída

Tinha um andar de doce calma
Um olhar fechado para pura alma
Um belo gingado tão recaído
Tinha o falso amor em si escondido

Devaneava em fluxo lento
Seu Tempo ignorava um outro advento
Padecia de um sóbrio vazio
Mergulhava num ermo frio

Olhava para os lados, sem ver
Cruzava o mundo sem saber
Indagava a dor que lhe pesava
Caía com o sonho que carregava

Menina linda, de vaga paixão
Fechava os olhos, mexia na ilusão
Garota lasciva, dançava no remorso
Lápis na mão, vadiava no ócio

Mulher criadora, fazia mundos com o olhar
Desiludindo o seu próprio, fingia amar
Criança inocente, de punhos fechados
Tiranizava com ódio os minutos passados

Era uma musa a prantear,
Num baile tão perfeito, devagar
Seus passos flutuavam calmos, sem defeito
Me levaram à outro plano, nunca feito

E num momento logo me vejo
Admirando a figura com desejo
Ela percebe, e logo pára
Sai de sua ilusão e me encara

Seu nome pergunta à Rosa,
Sem Tempo, temo tenebrosa
Corro o olhar, vejo sua face de amor
Vomitando palavras, digo que vejo a dor

Pudibunda, vario a palavra:
"A dor que vejo em seus olhos, não passa de uma cilada,
O que vejo vai além da compreensão
De um mero ser humano,
Vagueia na imaginação
De seu doce olhar tirano."

Mas a menina, insatisfeita, roga iluminação
Suplica de joelhos por minha suja razão
Agradando-a então, minto:
"Diria que o que vejo é o amor
Da jovem que ama a dor."

E ela se foi.
Perdida noutra multidão, preenchida pelo vazio, amante da solidão.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Letras quinhoadas

1-A poesia mantém meu ser vivo
Das palavras, me alimento
Ao pensar já nem suspiro
Esse mundo é meu sustento

2-A poesia está em mim
Como eu estou em você
Numa paixão sem fim
Da carne e do saber

1-O saber que não se sabe
E de imaginar, me cansa
Não almejo a verdade
Sou ritmada pela dança

2-E nessa dança da ilusão
Tropeço na ignorância
Pelos erros da razão
Mergulhada em pura ânsia

1-Caminho nas horas do tempo
Anseio enojada a palavra
Da realidade pútrida me ausento
Me liberto dessa fala amargurada!

2-Tiro de mim as correntes do amor
Afasto de minh'alma a tortura
Livro-me dos dias de doce dor
Nos quais perdi-me em tua ternura

2-E nestas palavras dispersas
Perdidas, desprevenidas
Sinto minhas entranhas inversas
E minhas mãos iludidas

2-Por você, minha amada
Permuto por estradas invisíveis
Palavras de amor em serenada
Para dizer simples: somos invencíveis

Por Carol e Cora

terça-feira, 10 de março de 2009

Noites de amargura

Os erros de minha vida
Restam como se nunca houvessem passado
Como lembranças de uma amarga bebida
Que virei num dia manguaçado

Lá se foi um, dali veio outro
Pareciam saltitar num passo errado
Girando, e berrando num jogo
De arrependimentos e medo calado

Mas às vezes sinto em minhas costas
Um punhal encravado
Vejo no dia seguinte as derrotas
De um passo desordenado

Atravesso a rua, minha rua
E olho para os lados
Vejo minha face nua
Coberta por sonhos renegados

Entro numa casa, não a minha
E percebo com surpresa o desespero
Ao ver em cima duma mesinha
Meu coração exposto sem esmero

Caio, como era pra ser
Despenco dum céu azul
Flutuo sem saber o que fazer
Sabia que não iria a lugar algum

Mas com surpresa me espatifo
Como leite derramado
Morro assim, como que com tifo
Sem nunca nem ter amado

Então agora, pergunto procê:
Se o sonho fosse tão ruim,
Você insitiria em viver?

As rosas

Veja o contentamento
Daqueles homens helênicos
Ria do consentimento
Das novas crianças efêmeras

Guie-se pelo profano,
Divino princípio
Goze com o dualismo insano
Desse real mundo mancípio

Procure pela ideal salvação
Longe desta perfeita desgraça
Mas cuidado com a contradição
Do doce pecado contra a falha graça

Olhe só, como é admirável a sociedade
o Homem, uma unidade distinta
Mamando no seio da universalidade
Enganando-se com uma liberdade extinta

E as crianças de razão ilimitada
Que crescem com os olhos do saber
Mas logo caem na pútrida cilada
Da cristã concepção do ser

Olhe só, a fragilidade da verdade
Encravada em nossos corações perdidos
Enganando-nos com falsa liberdade
Determinada por princípios inibidos

E a espetacularização da imagem
Brotando como uma rosa a difamar
Diante de nossas mentes sem coragem
Que já não enxergam com o olhar

Veja o descontentamento
De você, moribundo animal a viver
E adote o louvável sentimento
De que nada é o que parece ser

Mergulhe na correnteza da perdição
Perceba logo o que sua vida inibiu
E flutue na irascível maré da ilusão
Mas entenda agora: a razão nunca existiu.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Vamos fazer Amor com Pecado?

Libere de meus sonhos sórdidos
Esses gritos de aflição
Afaste de mim estes olhos
Que sangram traição

Por que tens mãos torpes?
E infinitas, obscenas?
Mirais meus olhos disformes
Vês uma velha mecenas?

Esgote meus mofinos lamentos
Que tormentam meu corpo devasso
Esqueça daqueles ditosos momentos
De cunho tão escasso

Por que tens essa cegueira?
Esse doce canto doloso?
Vês que não me encontro inteira?
Não enxergas este ódio fogoso?

Afaste dessa alma teus lábios
Libere-me deste cárcere
Preencha-me de versos sábios
Tire-me deste insano mármore!

Não amarei mais tuas palavras impuras
Sujas de perfídia perversidade
Esquecerei desta vida a amargura
Fugirei com louvável sagacidade

Renegarei então essa morbidez dilatada
Existirei em tão bela harmonia
Numa supérflua brisa emancipada
Flutuarei na Nona Sinfonia




Para você, amiga querida. Espero ter traduzido corretamente seus sentimentos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Conclusões dispersas

Me sinto perdida,
Absorta nas incertezas da juventude
Afogada nas certezas inibidas
Pela rotineira falta de atitude

Me falta inspiração,
Nesse emaranhado de devaneios
Não consigo a mínima alucinação
Para acalmar meus contínuos anseios

Me sinto escusada,
Minha mente sonha com um futuro de saber
Vivendo fora do consenso
De que somos o que aparentamos ser

Me sinto exata,
Há tempos fugi dessa moda pacata
Ao descobrir que a razão não passa de uma ilusão
E que essa vida é só fruto de minha fértil imaginação...

Me sinto encontrada,
Meio à esse torto espírito
Entrei num transe lírico
Ao descobrir que a razão é uma cilada.

Me sinto assim,
Num vazio errôneo
De delírios sem fim
Nesse mundo antagônico.

Adormecendo demônios

Vá às nuvens criança
Durma logo, que o sol já vêm
Ande, sonhe com a dança
Dos anjos inexistentes do além

O manto de estrelas já cobriu a luz
Durma, durma! Que amanhã logo aparece
A manhã já, já produz
O mais belo sonho da jeunesse.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Carolina

Carolina, venha comigo
Que o tempo é fugaz
Venha, num futuro contido
De paixão e nada mais

Oh Carolina, dê-me teu amor
Vamos separá-lo até não existir mais dor
Cortá-lo em partes iguais
Para tornarmos imortais

Dê-me teus sonhos então
Vamos deixar com que sejam uma velha ilusão
Vamos transformá-los em realidade
Apenas parte de nossa bela insanidade

Carolina, maestra da rima
Como teu canto me alucina!
Carolina, é brilhante tua sinfonia
Vamos logo para cervejaria!

Menina de admirável temeridade
Garota, quem se importa com a idade
Quando tua mente supera a perfeição?
Quando teus olhos transbordam a razão?

Carolina, é venenosa tua doce pureza
Como é louca tua incrível beleza
Carolina enfeitiçou minha mente
Tirou-me dessa realidade delinquente

Não chore, Carolina
Pelo canto de teu coração
Não perca esse mundo que te ilumina
De tão clara e bela paixão

Cante para a vida, Carolina!
Veja como é perfeito teu ser
Entregue-se à essa linda harmonia
Que te cobre de poesia e de saber

Menina, você veio de um mundo
Repleto de desvarios e ilusões
Vêm de um passado imundo
Castigado por arrependimentos e traições

Mulher de perfeição inibida
Rara poetisa, possui o dom da arte
Rainha contida,
Não ligue para o mal que já parte

Carolina, venha comigo
É em teu mundo que posso viver
Venha, num sonho contido
De poesia e de saber.

Vêm, o trem parte ao amanhecer
Vêm, sem você não sei ser
Vêm, já está na hora
Mas sem você não vou embora.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Verdade de quem?

Assinarei um papel imaginário
Firmarei um acordo sanguinário
Com uma comum absurdidade:
A errônea e falsa verdade

Esta fora criada há tempos
Quando por incontáveis adventos
O homem dispôs-se a crer
Que sua mente era a fonte eterna do saber

E com essa precisa certeza
Uniram-se os homens de cada nação
Que com admirável braveza
Sacrificaram outras vidas por uma ilusória razão

E com esse conceito em comum
Surgiram determinadas divindades
Que por asco ao incomum
Isolaram-se em suas próprias realidades

Formaram-se então as classes sociais
O senhor feudal virou aristocrata
O proletário permaneceu em condições anais
E somos nós o fruto de uma raça sociopata

Mas como um certo sábio diria
Somos nós o futuro do mundo
Estriparemos então a tirania
Dilaceraremos esse passado imundo!

Esqueçamos portanto essa moral burguesa
Essa podridão hipócrita
Gerada pela porra da incerteza
De nossa Nação Incógnita

Vamos à luta, príncipes da mudança,
Subverter essas mentes fétidas!
Uivemos o canto da esperança,
Acabemos enfim com as verdades pérfidas!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

C'est quoi?

Pour quelque raison
Un enfant a rit.

Daria tanto para ver com os olhos dessa criança
Ver as pessoas sorrindo fazendo passos de dança
Ver o mundo urrando em êxtase com um orgasmo
Ver a Natureza agradecendo com entusiasmo
Ver ao menos a mínima coerência
Em toda e qualquer existência
De nosso louvado Homem.

Mas a Razão
Com sua língua de açúcar confessou:
Mon amour, tu n'est plus qu'un morceau
D'une tarte pourri.

Hahaha

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nossas frívolas vidas

Todo homem anseia

Todo poeta devaneia

Toda criança inventa a dor

Para obter um admirador.

Arranja-se um emprego,

Ganha-se dinheiro,

Foge-se do diabo,

Para contemplar o resultado.


A velha moribunda

Em seu leito de morte pergunta:

Meu filho, tens orgulho do que tenho?

E este responde sem empenho:

O que tens, não consigo ver.

E a mulher diz sem se conter:

Mas o que sou, diga-me sem pudor!

Então o filho desiste:

Minha velha, o espelho é teu único admirador.


A velha lutou mas a morte veio

e

Ninguém aplaudiu seu desempenho.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cuspindo tua peçonha

A pouco pretendi esquecer
Deixei minha mente cair
Deixei meu corpo te perder
Fiz a amargura enfim escapulir

Toco agora a liberdade
Amo agora a realização
Conheço então a verdade
Mas por que duvida o meu coração?

Diga-me que estou certa
Engane-me com teus lábios
Limpe a ilusão que vaza incerta
Ajude-me nesses atos falhos

Por que desavenho?
Me diga a razão para tamanha dúvida!
Não acredito, mas despenco
Do mais alto pico da mente lúrida

E parecia-me tão exata
Essa certeza tão incerta
Parece-me então tão errada
Essa tristeza coberta

E outros espectros dançam
Num baile estouvado
E essas vozes cantam
Penetram em meu coração dilacerado

Logo percebo o que já havia cometido
Que horror, não me ensinaram a gostar
Não gosto do que não amo, não gosto do já vivido
Não gosto do som da palavra entregar

E entreguei-me a você
Entreguei-me ao meu tresvario
Entreguei-me sem poder, à tua mercê
Entreguei-me a um beijo vadio

E assim entregando-me percebi
Que na ciranda da paixão
Não vale mais mentir
Só vale abrir mão.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Clemência por si, irrompida numa manhã de verão

Ela julgou-se superior ao que de fato era. Desapontada, desiludida.
Talvez existisse a possibilidade de vencer. Ainda existia a esperança.
Agora, tornou-se algo que há muito se foi. O vento levou as cinzas de sua existência.
Ela provou o gosto pútrido da derrota. Desamparada, devassa.
Talvez existisse a possibilidade de ser extraordinária. Ainda existia a ilusão.
Agora, tudo não é mais o que deveria ser. O futuro mudará seu passado, de forma insana, seus sonhos se quebraram.
A única coisa que lhe resta é o amor por algo maior que si. Ela não mais esperará de sua capacidade. Ela é agora feita para dar. Dali sua felicidade voltará.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desamor crónico

Engraçado esse seu jeito
De declarar o eterno amor
Estranho esse meu defeito
De nunca retribuir o ardor

Transito num mar infinito
De correntezas sem crença
Nesse fluxo maldito
Não te mata minha indiferença?

Nunca compreendi sua paixão
Como tão fugazmente brota a loucura
As ingênuas palavras, não vê que são em vão?
Não te incomoda minha insana amargura?

Minha escassa vivência
Me provou estranhas reações
Não sei se é uma tendência
Mas nunca amei essas feições

Não entendo a dor que sinto
Quando seus lábios vazam calor
Não posso provar que minto
Quando vomito palavras de amor

Não me entrego ao captativo
Não anseio o conjugal
Nunca provei do concupiscente
É caro o oblativo
Tão precioso quanto o magistral
Ao inverso do platónico
E distante do possessivo
Vivo assim nesse desamor colossal

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Versos inacabados para amores eternos

Como seu jeito me hipnotiza
Sua calma me tranquiliza
Seu sorrir me leva a outro plano
Ela vem de um mundo insano

Me conquistou há tempos
Mas logo a perdi
Por outros mofinos adventos
Para minha alma fraca menti

Mas em outros dias senão aqueles de solidão
Ela me buscou, voltei à perfeição
E com este canto inacabado
Pretendo retribuir esse amor tão esperado



A outra é tão descomunal
Tão magistralmente nova, anormal
Sua tristeza se esconde em sua face bela
Em seus versos perfeitos, mente com cautela

Com sua mente de idéias subversivas
Com seu suspiro de inspirações poéticas
Conquistou-me com paixão agressiva
Levou-me distante de mentes sintéticas

Sua perfeição me orgulha,
Seu canto me leva à loucura
Sua imperfeição remota me entristece
Sua falta me enlouquece



As quero para a eternidade
Até nos faltar a idade
Elas em meus versos sempre estarão
Em meu sonhos, minha vida, minha eterna ilusão.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Canto da figueira

As idéias vêm à nossa mente
Exageramos, blefamos, mentimos
Atiçamos nossos sonhos delinquentes
A realidade, inibimos.

A paixão nos leva ao Nirvana
Sua melodia tão fina...
E essa visão tão insana
Tão doce, tão bela: cretina.

Dançamos o canto do Poeta
Gritamos os versos do desespero
E a ilusão novamente desperta
Avistamos você, mensageiro

Nossos olhos vêem além do ordinário
Nossas mãos despertam o desconhecido
Vemos além de ti nesse cenário
Não vivemos em teu mundo falecido!

As mãos são máquinas a devanear
Os versos são farsas que difamamos
Teus olhos enxergam o que se deve negar
A teus sonhos e ameaças, louvamos

E em tua mentira deliramos
És tu mensageiro, soberano
E teu universo podre ignoramos
Toda crença, toda vida, todo ano

Venha mensageiro, dê-nos tua mão suja
Esqueça essa realidade pervertida
Da realidade pútrida, fuja!
E traga sua razão esquecida

Dance o ritmo da loucura
Acredite em nossa ilusão verdadeira
Esqueça de tua vida a amargura
Colha o fruto inexistente da figueira!



Por Carol e Cora.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fantasias alheias

Imaginem só, julgaram-me livre!
Coitados, não sabem em que mundo vivem

Às vezes fico eu, aqui pensando
Discursando com meus botões, filosofando;
Definimos "livre", conjecturamos.
Mas, diga-me, podemos nós conhecer algo que nunca provamos?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pausa fugaz para o estro : O Sonho de la Damme Ilusão. Por Juan Dios


Agora vou lhe contar
Sobre a princesa que ninguém quis ser
Uma alma que pela eternidade irá sofrer
Agora vou lhe mostrar
A crueldade do ser
Uma humanidade a difamar
Matou a mais bela Dama do Saber


Sua História

Sua história se passou
Numa cidade que se acabou
Onde tudo começou
Acima do horizonte, abaixo do luar
Sua história se passa no Rio à Beira-Mar


-Quem é a garota maluca?
-Coitada, a que tem a mãe caduca
E o resto da família adúltera?
Ah, tornou-se prostituta pra pagar a multa
Que a vida lhe fez pagar

Aos dez tentou se matar
Mas até nisso fracassou
Então todas as noites da boa injetou
Vendeu seu corpinho pra mandar a cabeça pro ar

Aos treze de tudo abdicou
Sua alma já não sabia mais amar
Seu pai metia nela, sua mãe usava a panela
Do vigésimo andar tentou pular da janela

Aos quinze perdera sua graça
Seus olhos marcavam desgraça, sua palavra era ameaça
Um dia a amarraram na praça
E a comeram como traça

Sonhava grande a pobre menina
Achava que logo seria esquecida, como tudo na vida
Fugiu de casa, virou foragida
Ia aos bares roubar bebida
Conquistou muitos amores, cheirou muitas "flores"
Esqueceu seus horrores e afogou seus pavores

Mas fugir não levou a nada
Logo, logo foi encontrada, amordaçada
Arrastada pelas ruas envergonhada
Cuspiram, pisaram e gritaram
A prenderam na cruz à martelada
E até a morte foi estuprada

Assim se foi a pobre menina arregaçada:
Sem honra, sem amor, com apenas uma história mal-contada.

Seus devaneios:

Você agora vai ler
A mente perdida da Dama do Saber
São delírios alheios
Um diário de devaneios
Que passam por sua infância
Por sua falta de jactância
Por sua paixão iludida
Por sua vida inibida


O Presente do Pretérito

Mais um dia de glória perdida
De soledade desiludida
De amor esquecido
De máquina vivida
Outro dia em que não sou mais eu
Em que vagueio num amor que se perdeu
Em que sinto falta, sinto medo
De perder o que talvez nunca tive
De esquecer meus sonhos tão cedo


Viração incômoda

Não gosto do calor em meu corpo
Não gosto quando parece morto
Junto com o sorriso maroto

Não gosto de andar por linhas tortas
Não gosto de bater contra portas
De sentir no dia seguinte as esquecidas derrotas

Será que sou eu,
Ou o mundo pretende gostar do desagradável?
Dizendo suportar o insuportável

Oh Mundo, não consigo sentir prazer
Com o que dizem ser a melhor sensação a se ter
Oh Mundo, não minta para mim
E diga que enganou parvos com o ruim

Sair do corpo e não poder voltar
Entrar nele sem se lembrar de como foi voar
Não vejo a beleza em gostar de errar

Ver a demência da sociedade
Enganar a si mesmo com tamanha naturalidade
Sinto que o peso do mundo na minha cabeça se enterra
Meu corpo quer descer ao centro da Terra, mas minha mente quer guerra

Meu coração não precisa cantar essa canção
Minha imaginação vai além dessa ilusão
Prefiro viver somente da paixão
E morrer sem fumaça no pulmão.


Inclinação exclusiva

Quantas palavras ainda irão morrer
Quanto sonhos irei esconder?
Quantos sorrisos tolos estão por vir
Aqueles pelos quais eu me perdi

Tenho como desculpa a tolice da juventude
Ou a ignorância como virtude
Mas é você quem me condena
E não creio que valha a pena

Oh meu amor, que alegria você me traz!
Seu olhar me faz tão mais vivaz
Mas só te amo quando não te vejo
Quando seus lábios não me enojam um beijo

E é tão estranha essa paixão
Não sei se é cego meu coração
Mas ele vê a beleza que meus olhos se recusam a ver
Não sei se é certo ou se não quero te perder

E essa insegurança faz duvidar minha mente
Agora já me sinto diferente
Hoje te desprezei, ontem te amei
Quero te amar mas sei que não o farei


Vício utópico

Por que seus olhos brilham com tanto mistério?
Procurando os meus numa dança curiosa
E me enganam quando os olho
E fogem quando os procuro

Por que vejo tanta beleza em sua face
Mesmo sentindo minha mente negando?
Não quero viver sonhando
Mas fujo quando quero enfrentar, calo quando tenho infinitos versos a pronunciar

Saiba que quero te amar
Que as palavras inexistentes não irão nos afastar
Então venha comigo, dê-me sua mão
Dançaremos pra sempre sem solidão!


Nostálgica memória

Nossos olhos tremem nervosos
Procurando os sorrisos calorosos
Os rostos tão bem conhecidos
Rostos em momento algum esquecidos
Queremos tocar nosso país tropical
Queremos beijar a beleza jovial
Roubada de nossas bocas caladas
Nossos corações cantam versos perdidos
Amargurados sem saber dos velhos amigos
Nossas mentes não cansam de gritar
Nossas bocas desaprenderam a cantar
A nova canção nos faz chorar
Aqui não cantam como lá
Lá não te amo como aqui


O logro

São seus olhos que cegam minha razão
Suas mãos hesitam meu peito
Quando meus lábios faltam respeito
Sinto que perdi cedo meu coração

Quando seus olhos sorriem para os meus
Quando meu sorriso toca o seu
Meu corpo treme e minha alma ri
Minha mente se orgulha de algo que não vivi

Naquele dia morreu minha razão
Se falsas lágrimas fizessem efeito
Continuaria com meu sóbrio defeito
Seria eternamente amante da solidão

Mas noutro dia morrerá minha ilusão
O tempo trouxe cedo a decepção
Nossos jovens corações estarão tão distantes
Minha velha mente esquecerá num instante


Canto da dor

Onde está minha inspiração?
Por que as palavras temem tanto a solidão?
Não me olhe com seus olhos penosos
Já não ouço seus versos venenosos

Essa sua rotina me tira a razão
Me devora, me destrói, me cansa a paixão
Essa sua mente me faz sofrer
Me engorda, me deforma, me cansa de viver

Não me julgue com suas lágrimas de dor
Elas não têm mais força para o amor

Vou te deixar criança, seu rosto mostra a verdade
Não quero sentir em seu corpo a realidade
Vou te amar esperança, seus olhos me pedem perdão
Não quero te sentir mas não tenho opção

Eu vou lutar, vou voltar
Ainda tenho a Ilusão para amar
Vou ganhar, vou amar
Ainda tenho forças para lutar

Seu exagero não irá me impedir, vou viver
Meus lábios sorrirão, você verá
Então adeus, criança tristeza
Vou viver minha única certeza: ainda sei amar.

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Cansei de meus olhos mortos
Cobertos por essa tristeza nua
O que me fez para ter sorrisos mórbidos?
Por que essa vasta emoção crua?

São esses dias errôneos de solidão
Esses defeitos que me devoram o coração
Temo seus erros deixar de odiar
Nesses dias que mentem devagar

Cansei de meus devaneios melancólicos
Me irritam meus olhos alcoólicos
Meus versos rimam rimas já escritas
Me enojam minhas unhas ruídas

...


Ódio rebatido

Esse amor inexistente
Faz duvidar sua inerte mente?
Tens razão, meu amor
Esses meus olhos falham ardor
Se escondem no fingimento
Pois seu corpo é fraco, não me contento
Fui tola, confesso
Você hesita, não te impeço
Tão pobre meu amor, tão cego
Sua tristeza não me afeta, não nego
Sua incerteza me diverte, admito
Mas sua inércia me causa dor
Você é pouco, pouco não merece meu amor.


Pequenos hinos

Amor? Nunca soube como amar
Nem sei se já o sei
Pode ser que seja seu olhar
Pode ser que nunca amei!


Tão longe, tão perto
Os meses passam como dias
Os dias brincam com minha mente
Quando acordo já sou diferente.


Desilusão

Procurei em outras bocas seu sorriso
Em outros cantos sua voz
Me enganei com uma solidão inventada
Enlouqueci quando me vi acostumada
Quando percebi que o que me faltava
Já não era mais seu corpo
Que não foram seus lábios
Quando descobri que você não tem a cura
Para minha ilusão solitária
Obrigada
Pelo amor que nunca senti
Pelo sonho que ainda não tive
Pelo mundo que ainda não vi.


La plus belle des ilusions

Ma pensée chasse mon coeur
Ma rebeldie regrette mon corps
Si je pouvais changer le temps...
Mais ma vie refuse mon sourire, et je n'ai plus envie

La realité me manque, je ne peux plus mentir
Donne-moi ta joie, tes amours, ta vie
Raconte-moi comment c'est aimer
Car cela, je n'ai jamais gôuté.

Ma soletude fait tomber des fausses larmes
Mes yeux te suplient liberté
Je ne suis plus que de rêves
Je n'en veux plus de leur realité

Les étoiles me disent "au revoir", quand je marche sur les grèves
Les arbres me couchent le soir, quand mon corps n'a plus d'espoir
Les oiseaux chantent mes pas
Mon corps est loin, il ne reviendras pas.


Morbidez poética

Dei valor à degradação
Deixei a morte levar cedo minha afeição
Se apenas eu soubesse o peso de meus pecados
Se conhecesse o frio torturante da culpa
Ah! Malditos sonhos renegados
Matam meu corpo que já não luta
Enlouquecem minha mente perdida
Controlam minhas mãos lânguidas
Rogo, imploro, derramo lágrimas de vergonha
Mas não posso me mover,
Meus olhos não encaram essa face medonha
Ah! Lave minhas mãos sujas de traição
Salve-me da condenação!
Não deixe a morte provar piedade,
Não sou digna de humanidade!

Adeus!
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Agora já você já sabe a triste história
Da Dama sem Glória
A verdade desgraçada
D'alma abandonada
Conte à quem ver
O mundo deve saber
A humanidade não valhe a pena
É uma pena.




Fim

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

CAPÍTULO 3

A brisa doce carregava o odor nocivo da peste, derrubando com calma as folhas de outono.

Desolada, Sophie não temia mais a morte. Pelo contrário, a buscava em cada canto daquela cidade infestada. O cheiro repugnante de urina e carniça estava impregnado nas ruas mórbidas de Paris. Andar por elas era um risco dos miseráveis apenas, que não possuiam outra escolha senão passar ali o resto de seus dias penosos, esperando com esperança a visita da Morte. Sophie não era miserável, porém, se identificava com a desgraça dos que o eram. Assim, decidiu passar o restante de sua curta vida por entre eles, sendo essa sua tentativa de suicídio indecoroso.

Além dos indigentes, passeavam pelas ruas fétidas de Paris os chamados libertinos. Sem terem o que perder, esses bon-vivants arriscavam suas improfícuas vidas pagando barato por indecentes noites com meretrizes, ou festejando a desgraça pelos becos da cidade. Muitos deles eram poetas, poucos possuiam o dom; mas todos recitavam. Quando alcançavam o auge da embriaguez, saíam dos bares aos bandos, montavam com caixotes um palco improvisado e desatavam a gritar rimas.

Eram, naturalmente, detestados pela nata burguesa da sociedade. Aos olhos dos aristocratas, chegavam quase ao nível dos ratos pretos que espalhavam a peste, e que portanto, deveriam ser eliminados sem compaixão. De fato, no princípio, os soldados se divertiam fuzilando o maior número possível de ratos poetas. Mas, aos poucos, preferiram contrariar as ordens do rei, temendo mais a morte do que sua ira, e abandonaram o serviço.
Sabiam que aqueles hereges morreriam logo pela ordem de Deus, afinal, ninguém sobrevivia à peste.

Ninguém, fora nosso ilustre poeta Juan Dios.

Não porque era um homem forte, muito pelo contrário, Juan era miúdo e descarnado. Logo quando nasceu, fora abandonado pela pai desesperado, que o deixara numa ruela qualquer, acreditando que Deus lhe daria um destino melhor do que aquele que ele lhe havia reservado.

Fora resgatado logo em seguida por uma menina que, impressionada pela beleza e perfeição de seu choro, o levara para casa. A rapariga contara à mãe sobre o canto do bebê, que se assemelhava ao mais belo dos poemas. A mãe, apesar de impressionada pela história da filha, não poderia sustentar outra criança, pois já havia parido quinze e adotado outras cinco.

Ela o deixara então para os cuidados do padre, que o aceitara com a benevolência típica de um homem do seu cargo. Porém, sua generosidade fora breve: após apenas 2 anos passados ele renunciara o menino. A razão? Seu inexplicável talento em tudo o que fazia. Mesmo seu choro era talentoso! Aprendera a falar em seu primeiro ano de vida, e em seu segundo, já era capaz de conversar. Ainda mais surpreendente era a sua fala em questão. Ela era dotada de uma poesia extraordinária. No princípio, Juan falava em rimas, despertando a curiosidade do padre. Mas essa curiosidade se transformou logo em terror: ora, o garoto era ou divino ou satânico. E o padre admitiu a segunda suposição, para infortúnio de Juan, que fora deixado à mercê da desgraça das ruas.

Nelas, vagabundeou por um tempo, até ser encontrado por Manoel, o dono de um bar da cidade. Surpreso pela capacidade de comunicação que o rapaz possuia, Manoel decidiu levá-lo a um lugar mais adequado, onde ele poderia ter um futuro promissor: o orfanato. Manoel acreditava que lá Juan faria amigos, seria tratado como um pequeno príncipe, trabalharia seu dom. Infelizmente, ele estava enganado.

O período que Juan passou no orfanato fora o pior de sua longa vida. Obviamente que, em uma casa com quatro quartos para mais de 100 crianças, Juan não poderia ser propriamente tratado com carinho e atenção. Na verdade, fora tratado de maneira oposta. Era espancado ao nascer do Sol, então obrigado a cozinhar e estritamente proibido de pronunciar uma palavra sequer. Suas folhas foram roubadas, assim como suas penas, para que não pudesse exercer o dom da poesia. Quando alcançou os 12 anos, num acesso de raiva insana, assassinou a sangue-frio uma das monitoras e fugiu para longe dali. Seu retorno seria para vingança apenas.

Os anos que se seguiram foram passados nas ruas da cidade. Juan passara três anos caminhando em paralelepípedos sujos, bebendo da água pútrida do rio, comendo ratos imundos, tornando-se imune a qualquer doença que Paris pudesse oferecer. Quando estava à beira da morte por desnutrição, um jovem chamado Miguel foi lhe salvar. Miguel era um libertino, desafiador da morte e amante do perigo. Ao ver Juan, magro, fétido e sem esperanças, decidiu aprensentá-lo ao paraíso meio ao inferno. Decidiu integrá-lo ao bando dos bon-vivants. Decidiu fazer de Juan, um artista. E então, Juan se juntou ao bando de Miguel, encerrando a vida inconstante que costumava levar.


E assim se passaram os anos. Sua infância se restringira à mudanças contínuas, sem nunca passar em uma casa tempo suficiente para chamá-la de lar. Juan nunca provara do doce amor materno, nunca tivera uma família. Sua mente se preenchera de ódio e descrença, até chegar no estágio absoluto da indiferença. Recitava poemas vazios em caixas vazias nas ruas vazias. Aos 15 anos, Juan possuia a desilusão de um homem moribundo.

E fora essa a única razão para sua sobrevivência na infestada Paris: sua deplorável existência indiferente.

domingo, 4 de janeiro de 2009

o Luxo dos poetas. CAPÍTULO 2

Mentiras. Juan sabia que eram palavras falsas aquelas pronunciadas pelo guarda. Sabia tão bem, que não se preocupou. Nem por um momento pensou no que o homem havia dito.

Talvez tenha sido esse seu maior erro.

Sem ter o que fazer, sentiu seu estômago latejar. Havia passado dias sem comer, se contentando apenas com suas rimas. "Não me alimento de letras". Ela havia razão, sempre houvera. Sophie era sábia, os anos lhe ensinaram truques, a idade colecionara segredos. Era forte também, perdera sua família, todos condenados pela peste negra. Perdera seu lar, seu orgulho, sua razão para continuar. Ela já não era jovem, verdade, mas sua alma e corpo foram preservados. Suas curvas negavam seus 30 anos passados, seu sorriso denunciava a criança que permanecera. Rejuvenescera assim que encontrara o verdadeiro amor. Juan era ainda uma criança, ela sabia disso, mas não existem olhos no coração.

Se conheceram em tempos inoportunos, a Europa sofria a maior onda de mortandade que jamais varrera o mundo. Os homens se evitavam, parentes se distanciavam, irmão era esquecido por irmão, muitas vezes o marido pela mulher; e o que é pior e difícil de acreditar, pais e mães abandonavam os filhos à sua sorte, sem nunca mais os verem, como se fossem estranhos.

Em tempos como esse, o amor era esquecido, se tornando uma palavra estranha, um sonho distante, uma ilusão absurda. Um luxo dos poetas.


Voltemos, portanto, ao princípio de nossa história, ao ano em que o amor foi redescoberto. Voltemos à 1346, dia 14 de outubro.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Ameaças lancinantes. CAPÍTULO 1

O ano era 1351.

Quando acordou já era dia, embora as nuvens ocultassem o sol de inverno. Juan virou-se, de forma que pudesse admirar o rosto de sua amante. Como ela era bela! Seus cabelos negros cobriam-lhe a boca carnuda e vermelha, suas pálpebras ocultavam seus olhos verdes, tudo naquele rosto parecia ter sido magistralmente posicionado. Suas rugas desapareciam frente à calma de seus sonhos.

Juan tocou-lhe o rosto. Era liso como a mais pura seda. Beijou-lhe a face antes de sair da cama. Caminhou por seu humilde casebre, procurando em vão por um velho pão para comer. Passava por tempos difíceis, mas em tempos como aquele, tinha sorte de estar vivo.

Sem ter com o que enganar o estômago, desatou a escrever. Gostava daquilo, queria viver de sua pena somente, mas bem sabia que não existia espaço no mercado para um poeta miserável. Se contentava em declarar seus versos nas praças, ao menos ganhava uns poucos e podres tomates.

"Meus sonhos movem meus dedos
Quem há de impedir meus medos
Quem há de julgar meus versos pobres
Quando meus olhos os vêem nobres?"

Era sua desculpa a inspiração. Sonhava grande o pobre menino, acreditava no poder de suas palavras, cria que ainda havia de ser afamado pelo rei.
Escrevia sem cessar quando ouviu os passos de sua amante.
"O que faz? Onde está o pão?" indagou Sophie.
"Não pude controlar, minha amada, minhas mãos foram mais ligeiras que minha mente! Lá estava eu, à procura dum pão, quando senti meu coração vibrar. São os versos, Sophie. Quem se importa com a comida quando ainda temos as palavras?"
"Não me alimento de letras, pequeno." Ela beijou o rosto malogrado de Juan, e saiu às ruas.

Maldito momento em que Juan não pode segurá-la. Tentou tocar seus braços mas já era tarde, ela se fora. Mal sabia nosso caro Juan que seria para nunca mais voltar.

Juan esperou. O tempo passava incerto, o ponteiro custava a se mover, nosso herói teimava em escrever. Depois do que pareceram segundos, uma batida forte na porta o tirou de seu devaneio. Haviam guardas plantados em sua porta.
Sem hesitar, ele abriu o que se assemelhava a um pedaço de madeira pútrida, usada como porta.
"Juan Dios?" A voz do guarda lembrava um rato com cólicas.
"Depende. Se o senhor estiver se referindo ao safado que roubou o pão de padeiro, lamento lhe informar que bateu na porta errada." Um sorriso cobriu seu rosto. Nunca soubera mentir.
"Criança tola, deveria ser preso por tua jactância!" Exaltado, o guarda parou para recuperar o fôlego. "Mas, felizmente, tenho punição melhor."
Houve um breve momento de silêncio, antes de Juan decidir que o homem estava apenas o assustando com falsas ameaças.
"Tua presença já basta como punição, assim como teu hálito putrefacto. Agora saia de minha casa, homem torpe, pois tuas blafémias não me afetam. Palavra alguma é capaz de me acusar, sou um jovem cândido, nunca desacatei o Rei."
O guarda desatou a rir. Suas gargalhadas penetraram na mente de Juan.
"Só lhe digo uma coisa, pequeno verme, podes não temer minhas palavras, mas deves acreditar no que teus olhos imundos vêem. Com uma ordem do Rei perderás a vida de tua amada. Uma ordem, e a justiça será finalmente feita!"
"O que queres dizer, não entendo. Desculpe-me, mas não falo a língua dos porcos. Saia de minha casa! Guarde tua língua venenosa para outros tolos." A voz do menino perdera o tom de escárnio.
Juan tentou empurrá-lo, mas o homem tinha três vezes sua altura e largura. Persistente, ele o pôs para fora, mas não fora o suficiente para fazê-lo calar. Já na rua, o guarda gritava com ódio venenoso.
"Ouça bem, jovem miserável, Deus castiga a mulher que abraça o pecado. Aquela anciã terá o castigo que merece! Provaste do veneno funesto da velha, não é mesmo? Tocaste seu corpo culposo? Foste enganado pela serpente, meu caro! Terás teu castigo nas chamas do INFERNO!"
"Saia! SAIA!" Seu rosto denunciava desgosto, não aguentava mais mentiras.

Descubra-me.

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões