domingo, 4 de janeiro de 2009

o Luxo dos poetas. CAPÍTULO 2

Mentiras. Juan sabia que eram palavras falsas aquelas pronunciadas pelo guarda. Sabia tão bem, que não se preocupou. Nem por um momento pensou no que o homem havia dito.

Talvez tenha sido esse seu maior erro.

Sem ter o que fazer, sentiu seu estômago latejar. Havia passado dias sem comer, se contentando apenas com suas rimas. "Não me alimento de letras". Ela havia razão, sempre houvera. Sophie era sábia, os anos lhe ensinaram truques, a idade colecionara segredos. Era forte também, perdera sua família, todos condenados pela peste negra. Perdera seu lar, seu orgulho, sua razão para continuar. Ela já não era jovem, verdade, mas sua alma e corpo foram preservados. Suas curvas negavam seus 30 anos passados, seu sorriso denunciava a criança que permanecera. Rejuvenescera assim que encontrara o verdadeiro amor. Juan era ainda uma criança, ela sabia disso, mas não existem olhos no coração.

Se conheceram em tempos inoportunos, a Europa sofria a maior onda de mortandade que jamais varrera o mundo. Os homens se evitavam, parentes se distanciavam, irmão era esquecido por irmão, muitas vezes o marido pela mulher; e o que é pior e difícil de acreditar, pais e mães abandonavam os filhos à sua sorte, sem nunca mais os verem, como se fossem estranhos.

Em tempos como esse, o amor era esquecido, se tornando uma palavra estranha, um sonho distante, uma ilusão absurda. Um luxo dos poetas.


Voltemos, portanto, ao princípio de nossa história, ao ano em que o amor foi redescoberto. Voltemos à 1346, dia 14 de outubro.

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