segunda-feira, 16 de março de 2009

A Morte e a Desilusão

Seus pesadelos a guiam à realidade, a dor que sente transforma-se em fatalidade, o amor que preenchia parece nunca ter estado, o real fatiga sua mente, a razão implica no desconhecido, a amargura leva ao riso, o sorrir traz o desespero de não saber, o que a cerca já não importa, todo o resto cansa, ela se cansa; a imagem que reflete, os olhos que mentem, as pálpebras que adoecem, o sorrir que jaz ali, a felicidade que ainda está por vir.
E tudo pesa, pesa. Mesmo cercada, o mundo traz a Solidão. Ela a cumprimenta. Ela diz que trouxe uma amiga. Diga olá à Morte.

A menina pergunta o que vem depois, a Morte não sabe dizer, "Meu trabalho restringe-se a levar, nunca buscar, nunca continuar. E eventualmente, salvar.".
Novamente, o Tempo, que corre devagar, que busca os últimos minutos, segundos. Ela não responde. Salvar, repete. Dor, incoerência, uma possível fuga daquela realidade imunda.
Pergunta a razão de as pessoas se reduzirem a um pedaço de carne esquecido. "Elas sempre o foram." Pergunta como uma carne pode amar. "Por que ela não visa a morte.".
Pausa, fluxo de pensamentos, dúvida, dor, desejo de salvação.
"Você não quer morrer, minha cara."
A Morte surpreende a garota.
"Está claro em seus olhos o desejo de vida. Eu sei. Já vi tantos cansados, desiludidos, fracos. Tantos com o amor ainda guardado no peito, sem saber ao certo porque iam e não ficavam. Eles pediam a morte, não a visavam. Eu fui, a pedido, não a vontade. Eu vim, a pedido, não a necessidade. A procura pelo real já é um velho clichê, minha cara, a fuga da pútrida realidade é um luxo de poucos. Inventaram o Inferno para que existisse um Paraíso, para que as pessoas tivessem o mínimo ânimo para viver seguindo as regras, os princípios, os valores. Já vi a ordem, há muito tempo. Natural, animal. Mas não existia o Amor, este é um novo valor. Tornou desnecessário o Paraíso, substituiu a dor, o sofrimento, a solidão. Ah, quantos não se sentem sós, no meio da multidão, perdidos, desiludidos. Ninguém pensa mais, vocês são ensinados a fazê-lo, e quando finalmente conseguem, desistem ao verem o mundo com olhos lúcidos, quando a desilusão é muito maior que o padrão de felicidade. Quem disse que é preciso estudar, pagar, gastar, comprar, vender, dar, casar, procriar, respeitar, considerar, compartilhar? Vocês. Quer dizer, alguns de vocês que pensaram, e ao não desistirem, procuraram soluções para a tragédia que viam. Você enxerga, minha cara. Você sabe, e você desiste, mesmo sem ter a razão. Diga-me a razão."
Ela responde sem hesitar. Sua razão óbvia era a dor.
"Dor? De onde?"
"Não sei. Mas não consigo aguentar."
"Abra os olhos então. Você pensou, está certo, mas não viu. Abra os olhos da mente, enxergue os espectros do amor que te seguem. Assista a dança do mundo em agitada harmonia. Tudo errado. Mas você está certa. Assista os problemas, o abandono, a falta, o excesso. Assista o amor, o céu, o mar, aquela casinha amarela, aqueles sorrisos sinceros. Veja o SEU sorriso sincero. Ele ainda está lá, não é? Você ainda está lá, minha cara. E lá ficará.
Não vou te levar. O mundo precisa de você."
A Morte a cumprimentou, não com um aceno, não com um aperto de mão- mas com uma reverência.

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões