quinta-feira, 12 de março de 2009

Encontro com o Vazio

Seguindo minha sombra, ouvindo meu passo
Hoje vi tão claro o descompasso
Da massa cruzando a avenida
Nas infinitas faces, uma distraída

Tinha um andar de doce calma
Um olhar fechado para pura alma
Um belo gingado tão recaído
Tinha o falso amor em si escondido

Devaneava em fluxo lento
Seu Tempo ignorava um outro advento
Padecia de um sóbrio vazio
Mergulhava num ermo frio

Olhava para os lados, sem ver
Cruzava o mundo sem saber
Indagava a dor que lhe pesava
Caía com o sonho que carregava

Menina linda, de vaga paixão
Fechava os olhos, mexia na ilusão
Garota lasciva, dançava no remorso
Lápis na mão, vadiava no ócio

Mulher criadora, fazia mundos com o olhar
Desiludindo o seu próprio, fingia amar
Criança inocente, de punhos fechados
Tiranizava com ódio os minutos passados

Era uma musa a prantear,
Num baile tão perfeito, devagar
Seus passos flutuavam calmos, sem defeito
Me levaram à outro plano, nunca feito

E num momento logo me vejo
Admirando a figura com desejo
Ela percebe, e logo pára
Sai de sua ilusão e me encara

Seu nome pergunta à Rosa,
Sem Tempo, temo tenebrosa
Corro o olhar, vejo sua face de amor
Vomitando palavras, digo que vejo a dor

Pudibunda, vario a palavra:
"A dor que vejo em seus olhos, não passa de uma cilada,
O que vejo vai além da compreensão
De um mero ser humano,
Vagueia na imaginação
De seu doce olhar tirano."

Mas a menina, insatisfeita, roga iluminação
Suplica de joelhos por minha suja razão
Agradando-a então, minto:
"Diria que o que vejo é o amor
Da jovem que ama a dor."

E ela se foi.
Perdida noutra multidão, preenchida pelo vazio, amante da solidão.

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Sou fruto da nudez de meus instintos e da pureza de minhas paixões